quarta-feira, novembro 23, 2005

Looping

Tá. Eu disse que preferia montanha russa a carrossel e é bem verdade. Preciso disso. Do movimento, do frio na barriga, daquele grito que sai da garganta mesmo sem querer. Mas, o fato é que ando cansada de subir ateeeeeeeé lá no alto e despencar. Depois de um tempo, isso dá enjôo, uma ansiedade fodida e insônia. É, insônia. Fora a confusão, as oscilações de humor e a sensação de estar perdida onde quer que esteja. Faltando. Nunca sendo, nunca estado assim: com-ple-ta-men-te. Porque não dá pra não se preocupar com o que vem na próxima curva... Aí, fica tudo embaralhado e a gente não sabe como encaixar as peças desse quebra-cabeças. Quando se chega nessa fase, bem sei, até uma ligação que vem com um “amo você” pode doer. Muito. E dar vertigem. Das grandes

segunda-feira, novembro 21, 2005

Da arte de cair em tentação

E quando chegar na sua casa, o elevador vai estar no último andar. Porque o elevador sempre tá no último andar quando tô com pressa. Vou apertar o botão mil vezes, mesmo com a luzinha já acesa, e sorrir de nervoso pro rapaz encostado na parede com mochila nas costas, que espera também. Quando a porta abrir, vou esbarrar nas pessoas que querem sair e pedir desculpas, sem graça. Vou olhar pro rapaz, que continua encostado na parede com mochila nas costas, com cara de vai-ou-não-vai? Vai. Antes de chegar no seu andar, o elevador vai parar duas ou três vezes. Porque o elevador sempre pára duas ou três vezes antes de chegar onde quero quando tô com pressa. Pronto. Vou tocar a campainha e ouvir os seus passos rápidos, enquanto o meu coração bate no mesmo ritmo. Você vai perguntar quem é, como se não soubesse, e abrir a porta já morrendo de rir da minha cara afobada. Vou sorrir de volta, porque meu ar de “puta que pariu, que demora é essa?” não vai resistir aos seus apelos, porque eu não vou resistir aos seus apelos, porque eu já não resisto...

sexta-feira, novembro 18, 2005

Vindo pra cá

E fazia calor, apesar de tanto cinza no céu. Aí, pensei: “São Pedro não sabe direito o que tá sentindo”. A blasfêmia trouxe chuva. São Pedro zangado, me olhando lá de cima: “Humpf. Quem não sabe direito o que ta sentindo é você, oura!”. Parei pra ver se estiava e acabei me distraindo com o azul do olho do moço, que dizia: “a Natureza de Deus é mesmo uma coisa impressionante, né?”. A Natureza de Deus... É o tipo de coisa que não alcanço. E nem é por não querer. Depois, foram as duas meninas. Uma com braços cruzados, a outra com as mãos pra trás. Dizendo não o tempo todo, apesar da vontade de abraço que se via no olhar. Ah, se via! Falando em abraço, pedi um de três minutos que tá durando dias e dias. Confesso: não quero que acabe. Acho que poderia morar num lugar assim. No meu caminho o cheiro era de terra molhada e o sentimento, bucólico. Lembrei dele acordando no meio da noite pra me dar remédio pra tosse e pensei: “isso é amor”. Desacelerei o passo que passava depressa, não queria chegar. Mas, cheguei. E continuo aqui, enquanto há tanta vida lá fora.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Das últimas horas

Teve um dia inteiro de muita preguiça, conversa leve e riso solto. Teve tentativa de cinema, mas ele chegou atrasado e voltei pra casa com cara feia depois de rodar e rodar em shopping-lotado-em-dia-de-feriado. Pra compensar, teve sopa quentinha e música boa. Aí, foram horas e horas falando das distâncias todas. Tristezinha antes de dormi. Mas, dormi. Apaguei. Teve "vão braços, vão pernas" ao acordar. Teve sensação de estar trabalhando no big brother, com vigilância total e absoluta. Teve disse-me-disse na agência e a certeza de que poucas coisas me deixam tão puta quanto disse-me-disse... Teve fulga na hora do almoço. Não, não teve almoço e sim, sei que isso é errado. Teve telefone tocando sem parar e eu querendo sossego. Teve aquela moça lá triste comigo e coração apertado. Teve correria maior do mundo pra fazer milhares de coisas ao mesmo tempo e consegui. Teve Internet quebrada caráleo! Teve mensagem de celular esperada, quando já era tarde demais. Teve. Tinha. Foi.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Aquela carta azul

E eu precisava escrever uma carta. Daquelas com letras urgentes, cheias de tanto pra dizer. Mas, as palavras, você sabe, as palavras não obedecem ao pensamento. Têm vida própria. Fogem, brincam de esconder. Fiquei ali, papel azul em branco. Horas seguidas. Começando, sem terminar. Começando, infinitamente. Nada fazia sentido. Porque não fazia sentido o que queria te dizer. Não fazia sentido nem, tentar, te dizer. Cansada. Comecei um traço meio torto que terminou nele mesmo e agora tenho um coração azul pra te dar. Acho que assim você entende.

terça-feira, novembro 08, 2005

Prestatenção

Você sabe, vou aonde o vento me leva. E o vento me leva, de novo. Depois de tanto tempo parada no mesmo lugar, sinto o movimento. Ainda leve, ainda vago, ainda quase. Mas começa. Beija o rosto, assanha o cabelo, dá calafrio. Frio. Desses, na barriga. Se você segurar a minha mão bem bem forte, talvez ainda possa ficar. E olho de relance pra ver se você tá prestando atenção ou vai me deixar voar. Sinto flutuar e me dou asas.

sexta-feira, novembro 04, 2005

E teve aquele filme: Oldboy. Assistido com olhos grudados. Aí, a boniteza de Gang Hye-jung, despertou aquela antiga vontade de ser linda, loira e japonesa. Com sorte, em outra vida, beibe...Depois, teve aquela conversa toda sobre Diadorim, que ela re-descobriu por minha causa, que descobri por causa dela. A gente achou tão, tão. Porque a gente é do tipo de gente que acha tão, tão uma coisa assim. E tiveram as ligações. Duas. Na primeira: "tô indo pra farra" e confesso que fiquei amuada, porque tô doente e precisada de atenção e carinho. Na segunda, toda aquela confusão de sentimentos: quero-não-quero e quero. Um puta-que-pariu sem tamanho ecoando aqui dentro e me tirando o sono. A tal farra não foi tão grande assim. Fiz manha, ganhei dengo. Tentei aquietar o coração. Tarefa das mais difíceis. Abro os olhos e uma noite inteira não foi capaz de me fazer esquecer o quero-não-quero e quero. Ainda e apesar de. Enlouqueço querendo matar o mito. Penso em estratégias e armadilhas e perdida em pensamento, acabo tropeçando num sorriso amarelo. Levanto e, depois do susto, sorrio de volta. Meio encantada, muito curiosa. Me distraio de mim.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Psssssiu...


Porque ela era toda silêncio. Cansada das palavras que estava. Todas. Já tão gastas. E quando ele foi embora, não chorou, não saiu correndo porta afora, nem gritou seu nome bem alto. Ficou ali. Parada. Não sentia nada. E esse vazio preenchia tudo.

Ilustração da Aline Jobim, que encheu meu dia de encantamento.