segunda-feira, outubro 30, 2006

E eu sinto falta de alguma coisa que não sei exatamente o que é. O frio na barriga, o coração acelerado, os olhos vidrados. A vertigem. A intensidade. Mas, cansa ser intensa. Eu me abuso e paro. Preciso respirar devagar e sentir quietude, vezenquando. Penso que tudo podia ser mais fácil, se não escolhesse sempre a opção mais difícil. Acho que sou o meu problema. Mas, também acho que não sou um problema assim tão grave.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Ela lhe deu o coração e ele não soube o que fazer. Porque a gente nunca sabe o que fazer quando tem um coração na mão. Pensou em como ela era esquisita. Talvez, um pouco maluca. Se entregar dessa maneira! Isso não é normal, não é... Pensou que aquilo devia doer, arrancar o coração assim, sem qualquer pudor. Sentiu um calafrio percorrer a espinha, imaginando se ela ia querer o coração dele também. Não, não podia deixar que ela fizesse aquilo com ele! Era absurdo, inaceitável, doentio até. Sentiu raiva. Depois, olhou pra ela com um misto de desprezo e pena. Como é que ela faz isso consigo mesma? Como é que...? Foi embora. Não podia aguentar aquilo. Precisava ser inteiro e viveu pela metade.
Ela atravessou rios e pontes. Atravessou ruas e sinais vermelhos. Atravessou limites e crenças. Porque ele disse talvez. E porque ele disse talvez, ela foi. Ela não se importou com os quilômetros, nem com as horas. Não se importou com os medos, nem com as dúvidas. Não se importou com ela, nem com o resto do mundo. Porque ele disse talvez. E porque ele disse talvez, ela acreditou.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Ele ri da minha cara séria e desse meu ar de quem pode começar a chorar a qualquer momento. Depois, me olha como se eu tivesse 5 anos e precisasse me explicar o mundo. Ele se distrai e passo horas olhando pro teto e achando que a vida não tem qualquer sentido. Ele grita meu nome, me abraça e traz os meus pés de volta pro chão. Sinto uma quase alegria. Ele não me deixa sofrer em paz.

terça-feira, outubro 24, 2006

E eu vou repetir em alto e bom som, de mim pra mim mesma, infinitas vezes, o quanto você não vale a pena. Vou aprender a achar graça dessa história toda porque sei que posso brincar com a minha dor. Vou ser egoísta assim, porque isso é o oposto da entrega que desenhei pra você. Vou falar sem parar, mesmo que precise inventar palavras, porque o silêncio me derrubaria de tal forma e preciso continuar de pé e correndo, correndo pra longe de mim mesma porque lá no fundo é você que encontro.
É triste uma história começar com as palavras mais bonitas e terminar com três pontinhos mixurucas, que nem têm a dignidade de um ponto final.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Eu quero coisas que não sei o nome.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Você joga a pedrinha na casa 01. Se ela cair no lugar certo, você vai pulando num pé só pra casa 2, 3, 4... céu e volta. Apanha a pedrinha no chão e pula pra fora. Sem pisar no traçado de giz. Aí, começa de novo, dessa vez na casa 02. Quanto mais perto do céu, mas difícil a pedrinha cair dentro do quadrado e mais provável você ter que parar e dar a vez a outra pessoa. O mesmo acontece, quando você se desequilibra, pisa na linha, põe o outro pé no chão ou cai. Eu sempre caio.

terça-feira, outubro 17, 2006

Ela falava sem parar. Amontoando toda espécie de palavras pra que ele entendesse que o que era antes não estava mais lá. Ele olhava pra ela, pensando em como ficava bonita com esse ar melancólico. Distraído, sorriu. Ela ficou em silêncio, como quem toma um susto. Começou a chorar. Uns olhos enormes se afogando em lágrimas. “Qué que tá acontecendo?” Ela pensou em derrubar os pratos todos no chão e gritar, gritar que tinha quebrado, acabado, rompido. Mas, não conseguia se mexer, não conseguia sequer falar. Os olhos dele grudados nela, congelando qualquer movimento. Ele levantou, beijou os lábios dela com gosto de sal e sorriu como quem compreende o sentido do Universo. Ela o odiou. Por 3 minutos inteiros. Depois, sorriu de volta e derreteu.

sábado, outubro 14, 2006

Foi como na vez em que me queimei. Segurei a assadeira quente e fiquei com o cabo dela desenhado na mão. Por 30 ou 40 segundos não me mexi, pensando no que fazer pra aliviar a dor. Aí, ele apareceu e eu comecei a chorar, compulsivamente. Depois a rir, na mesma medida. Porque chegava a ser engraçado me saber infantil assim. E reconfortante sentir que ele não se afastava, nem me afastava, por causa disso. Quando eu era criança, tinha medo de dormir sozinha. Mas tinha que dormir sozinha, porque não tem bicho papão no armário, ora! (como é que eles podiam saber, sem nem olhar?) E eu sentia aperto no peito tão grande quando a tarde ia chegando ao fim, que era quase desespero. E o tempo todo essa obrigação de seguir em frente, porque é isso que se faz. De me virar sozinha, porque as pessoas são hostis. De não sentir tanta dor, porque a vida continua. E foi assim por tanto tempo que passou a ser verdade, mesmo que não fosse tão verdade assim. Não aqui dentro. E aqui dentro é tudo que eu tenho. Hoje, ele chegou e comecei a chorar. Porque eu posso chorar e dizer que tenho medo, um medo medonho, que vai muito além de dormir sozinha. E fiquei pensando em como isso de sentir que se pode ser total e completamente o que se é, dá um alívio maior do mundo.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Eu não como quando tô agoniada, apesar de achar muito, muito gostoso aquele crepe de frango desfiado com catupiry.
Eu fico agoniada muito facilmente.
Eu tenho um celular que não funciona direito.
Eu tenho um nariz, que também não.
Eu não gosto quando já tenho o livro que me dão de presente.
Eu falo muita besteira e rio compulsivamente.
Eu mexo nos objetos em cima da mesa, porque não sei onde colocar as mãos.
Eu tenho medo de meninas pálidas de cabelos pretos, iluminadas por luzes fantasmagóricas.
Eu adoro suco de tangerina e tenho problemas com muitas opções.
Eu gosto de olhares e sorrisos e não acho doce muito doce enjoado.
Eu não sei lidar com gentes e deixo de fazer coisas que tenho vontade por causa disso.
Eu sou infinitamente boba.
Eu queria encontrar as palavras certas pra te dizer que.

segunda-feira, outubro 09, 2006

E eu quero te amar alienígena assim. Respirar o ar a sua volta e descobrir coisas que eu nem sabia que existiam. Me perder pra me encontrar ao teu lado. Num susto. Como quem acorda em outro quarto e não sabe onde está por 5 segundos. Quero encher esse vazio do teu sorriso, mesmo sabendo que não vai ser o bastante, porque nunca é o bastante. Quero te chamar pra dançar aquela velha música. Difícil é atravessar o salão e te alcançar.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Ele é improvável, impróprio, imperfeito.
E só porque ele é assim, tão ímpar, quero que seja meu par.
E ele responde que não, sem nem saber o que ela vai perguntar, sem nem saber se ela vai perguntar.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Rabisco o teu rosto no papel. De tão leve, esqueço a tua mão sobre a minha e penso que esses traços são meus.

terça-feira, outubro 03, 2006

Eu crio labirintos e me enrolo no novelo que devia me salvar. Mãos e pés atados. Olhos bem abertos. Mas os olhos, você sabe, se encantam com a luz e se perdem.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Tem esse aperto no peito e uma quase-angústia. Das coisas sem nome, que eu podia chamar de. Mas é melhor não. Porque quando a gente enfeita o sentimento com letras, ele ganha uma concretude que é pra nunca mais. E eu tenho medo do que é pra nunca mais.