Ontem, ela me disse que doía e eu não pude fazer nada. Hoje, o que eu queria era passar na casa dela só pra entregar a gérbera que ganhei e falar de amor. Numa hora perdida entre o azul do dia e a escuridão da noite. Pentear o cabelo molhado e depois brincar com os cachinhos, que já não são os mesmos que conheci. Contar de mim, dos meus dias e do que tenho aprendido, como se fosse uma espécie de tesouro pra ela guardar. Sim, porque tem tanto de mim nela, que queria cuidar e dizer: "Vai por aqui, que não machuca tanto". Como se fosse possível. Como se fosse provável. Depois, ia ficar em silêncio pra tentar decifrar aqueles olhos antigos. Não ia conseguir porque ela ia acabar fazendo piada do que é sério ou fazendo pouco do que é muito. Menina que é. Aí, ia pedir pra ela ler Miguilim, com voz grave, todas as vírgulas, pontos e reticências, que é coisa bonita que só. A gente ia brincar de dizer verdades e gravar confissões no celular, tirar fotos improváveis e fazer tatuagens de caneta azul. Ia ser preciso ficar bem quietinha pra recuperar o fôlego depois de tanto de rir. Nessa hora, o jeito ia ser apelar pro horóscopo dela, que é meu, fazer café e começar a dançar. Até cansar. Até gastar. Até ela se distrair e dormir. No meu colo, que é onde devia morar.
posted by Briza at 6:18 PM