sexta-feira, novembro 18, 2005
Vindo pra cá
E fazia calor, apesar de tanto cinza no céu. Aí, pensei: “São Pedro não sabe direito o que tá sentindo”. A blasfêmia trouxe chuva. São Pedro zangado, me olhando lá de cima: “Humpf. Quem não sabe direito o que ta sentindo é você, oura!”. Parei pra ver se estiava e acabei me distraindo com o azul do olho do moço, que dizia: “a Natureza de Deus é mesmo uma coisa impressionante, né?”. A Natureza de Deus... É o tipo de coisa que não alcanço. E nem é por não querer. Depois, foram as duas meninas. Uma com braços cruzados, a outra com as mãos pra trás. Dizendo não o tempo todo, apesar da vontade de abraço que se via no olhar. Ah, se via! Falando em abraço, pedi um de três minutos que tá durando dias e dias. Confesso: não quero que acabe. Acho que poderia morar num lugar assim. No meu caminho o cheiro era de terra molhada e o sentimento, bucólico. Lembrei dele acordando no meio da noite pra me dar remédio pra tosse e pensei: “isso é amor”. Desacelerei o passo que passava depressa, não queria chegar. Mas, cheguei. E continuo aqui, enquanto há tanta vida lá fora.