quarta-feira, abril 06, 2005

Histórias da Menina

A menina acordou de madrugada, com o barulho de chuva na janela. Uma chuva fininha e passageira. Ela ficou ali parada, olhando os carros que passavam apressados, mesmo já tão tarde. E percebeu que o mesmo pensamento que a acompanhava antes de deitar, continuava lhe fazendo companhia. E só então se deu conta que não tinha nenhum controle sobre isso. Que não era ela quem estava no comando. Era o pensamento que a absorvia e lhe prendia como uma teia gigante. Talvez, se ela fizesse algum esforço, conseguisse escapar e sair dali correndo pra bem longe. Mas, ela não queria. Ela se enrolava na teia e ria. Pensando num apartamento, que por algumas horas foi o centro do Universo. Um Universo paralelo. Onde havia música e o olhar do cara que falava mais alto que qualquer palavra. Onde o frio na barriga era o contraponto do calor na pele. E o medo, o contraponto do desejo. Medo de estragar tudo. Medo de ir além. Medo de acabar com o encanto. Um passo em falso e a queda livre... E era difícil caminhar assim de olhos fechados. Sem respostas, sem certezas, só seguindo a intuição. Ela continuou andando no escuro. Até ficar frente a frente com aquele olhar. Que incendiava. E ela achou graça por pensar que poderia ser diferente. Por acreditar que, de alguma forma, o destino pudesse lhe pregar uma peça e levá-la a outro canto. E foi assim que, em meio à confusão e à surpresa, tudo desapareceu. O tempo, o espaço, o mundo lá fora. Sumiram. Como num passe de mágica. Só havia aquele lugar e aquele momento. Mais nada. A vida derretia, se desfazia. Se transformava em luz e cor. Mas um surto de razão tomou conta dos dois... Da menina e do cara. E antes que fosse tarde demais, ela fez a última coisa que queria fazer. Foi embora, sem saber que já não tinha pra onde ir.