sábado, dezembro 31, 2005

19h

E a gente só tem mais algumas horas pra ser feliz em 2005.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Desses pensamentos que se tem antes de dormir

Eu podia encher uma noite inteira de palavras só pra você não ir embora.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Bem-me-quer-mal-me-quer

É que as palavras fugiram quando ele viu aquela a menina de cabelo cacheado, olhinhos pretos brilhantes, mochila nas costas, saia comprida, quase tropeçando no cadarço desamarrado do tênis. Todos os verbos silenciaram e ele só ouvia o coração batendo num ritmo desconhecido que seguia a cadência dos passinhos que vinham em sua direção. “Ela caminha, como é que pode?” Pensou em anjos e epifanias. E quanto mais a menina de cabelo cacheado, olhinhos pretos brilhantes, mochila nas costas, saia comprida, quase tropeçando no cadarço desamarrado do tênis se aproximava, mais ele doía. Porque sentia no peito a distância que se via ainda maior assim de perto e não conseguia entender como é tinha vivido incompleto, sem aquele skindum, skindum que fazia dançar o pensamento. Tomou um susto quando se deu conta de que tava parado na frente da menina de cabelo cacheado, olhinhos pretos brilhantes, mochila nas costas, saia comprida, quase tropeçando no cadarço desamarrado do tênis que tomou um susto maior ainda porque andava distraída com não-sei-o-quê, porque sempre andava distraída com não-sei-o-quê. Ele sentiu o rosto corar e as pernas tremerem, mas engoliu o medo assim a seco e perguntou num susurro: “joga comigo?” Ela sorriu bem alto um desses sorrisos que fazem cócegas, pegou a pedrinha e atirou bem no céu.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Em falta.

É que eu tenho trabalhado demais. Chego tarde e cansada e só entro na Internet pra brincar no Orkut e conversar com a menina lá. E tem isso de achar que a minha vida anda sem graça demais pra escrever qualquer coisa sobre. Mas, queria contar que tô com uma inveja filha da puta de George que tá indo pro Pearl Jam em Sampa (no Rio também, que ele é guloso). Mas, não queria ver os caras não, queria era ver a cara dos meus queridos... Inveja, inveja, inveja! Chega a doer e eu sei que é feio, mas é inevitável também. Porque era eu que ia em dezembro! Tá. Vamo mudar de assunto, porque tem notícia boa também: Amaro vem em janeiro (é Talys, é Racca, ele vem!) e deu vontade de gritar quando soube, porque já gosto tanto. E vai ter festinha com direito a abraço, porque abraço é bom e eu gosto. E ele prometeu colo e cafuné também. Aí, minha cidade vai estar cheia de gringos no comecinho do ano! Vai faltar um outro tanto de gente lá do Brasil que eu queria demais ter por perto (sim, sim, vocês sabem), mas que eu espero e que se demora, vou buscar. É, eu vou.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Looping

Tá. Eu disse que preferia montanha russa a carrossel e é bem verdade. Preciso disso. Do movimento, do frio na barriga, daquele grito que sai da garganta mesmo sem querer. Mas, o fato é que ando cansada de subir ateeeeeeeé lá no alto e despencar. Depois de um tempo, isso dá enjôo, uma ansiedade fodida e insônia. É, insônia. Fora a confusão, as oscilações de humor e a sensação de estar perdida onde quer que esteja. Faltando. Nunca sendo, nunca estado assim: com-ple-ta-men-te. Porque não dá pra não se preocupar com o que vem na próxima curva... Aí, fica tudo embaralhado e a gente não sabe como encaixar as peças desse quebra-cabeças. Quando se chega nessa fase, bem sei, até uma ligação que vem com um “amo você” pode doer. Muito. E dar vertigem. Das grandes

segunda-feira, novembro 21, 2005

Da arte de cair em tentação

E quando chegar na sua casa, o elevador vai estar no último andar. Porque o elevador sempre tá no último andar quando tô com pressa. Vou apertar o botão mil vezes, mesmo com a luzinha já acesa, e sorrir de nervoso pro rapaz encostado na parede com mochila nas costas, que espera também. Quando a porta abrir, vou esbarrar nas pessoas que querem sair e pedir desculpas, sem graça. Vou olhar pro rapaz, que continua encostado na parede com mochila nas costas, com cara de vai-ou-não-vai? Vai. Antes de chegar no seu andar, o elevador vai parar duas ou três vezes. Porque o elevador sempre pára duas ou três vezes antes de chegar onde quero quando tô com pressa. Pronto. Vou tocar a campainha e ouvir os seus passos rápidos, enquanto o meu coração bate no mesmo ritmo. Você vai perguntar quem é, como se não soubesse, e abrir a porta já morrendo de rir da minha cara afobada. Vou sorrir de volta, porque meu ar de “puta que pariu, que demora é essa?” não vai resistir aos seus apelos, porque eu não vou resistir aos seus apelos, porque eu já não resisto...

sexta-feira, novembro 18, 2005

Vindo pra cá

E fazia calor, apesar de tanto cinza no céu. Aí, pensei: “São Pedro não sabe direito o que tá sentindo”. A blasfêmia trouxe chuva. São Pedro zangado, me olhando lá de cima: “Humpf. Quem não sabe direito o que ta sentindo é você, oura!”. Parei pra ver se estiava e acabei me distraindo com o azul do olho do moço, que dizia: “a Natureza de Deus é mesmo uma coisa impressionante, né?”. A Natureza de Deus... É o tipo de coisa que não alcanço. E nem é por não querer. Depois, foram as duas meninas. Uma com braços cruzados, a outra com as mãos pra trás. Dizendo não o tempo todo, apesar da vontade de abraço que se via no olhar. Ah, se via! Falando em abraço, pedi um de três minutos que tá durando dias e dias. Confesso: não quero que acabe. Acho que poderia morar num lugar assim. No meu caminho o cheiro era de terra molhada e o sentimento, bucólico. Lembrei dele acordando no meio da noite pra me dar remédio pra tosse e pensei: “isso é amor”. Desacelerei o passo que passava depressa, não queria chegar. Mas, cheguei. E continuo aqui, enquanto há tanta vida lá fora.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Das últimas horas

Teve um dia inteiro de muita preguiça, conversa leve e riso solto. Teve tentativa de cinema, mas ele chegou atrasado e voltei pra casa com cara feia depois de rodar e rodar em shopping-lotado-em-dia-de-feriado. Pra compensar, teve sopa quentinha e música boa. Aí, foram horas e horas falando das distâncias todas. Tristezinha antes de dormi. Mas, dormi. Apaguei. Teve "vão braços, vão pernas" ao acordar. Teve sensação de estar trabalhando no big brother, com vigilância total e absoluta. Teve disse-me-disse na agência e a certeza de que poucas coisas me deixam tão puta quanto disse-me-disse... Teve fulga na hora do almoço. Não, não teve almoço e sim, sei que isso é errado. Teve telefone tocando sem parar e eu querendo sossego. Teve aquela moça lá triste comigo e coração apertado. Teve correria maior do mundo pra fazer milhares de coisas ao mesmo tempo e consegui. Teve Internet quebrada caráleo! Teve mensagem de celular esperada, quando já era tarde demais. Teve. Tinha. Foi.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Aquela carta azul

E eu precisava escrever uma carta. Daquelas com letras urgentes, cheias de tanto pra dizer. Mas, as palavras, você sabe, as palavras não obedecem ao pensamento. Têm vida própria. Fogem, brincam de esconder. Fiquei ali, papel azul em branco. Horas seguidas. Começando, sem terminar. Começando, infinitamente. Nada fazia sentido. Porque não fazia sentido o que queria te dizer. Não fazia sentido nem, tentar, te dizer. Cansada. Comecei um traço meio torto que terminou nele mesmo e agora tenho um coração azul pra te dar. Acho que assim você entende.

terça-feira, novembro 08, 2005

Prestatenção

Você sabe, vou aonde o vento me leva. E o vento me leva, de novo. Depois de tanto tempo parada no mesmo lugar, sinto o movimento. Ainda leve, ainda vago, ainda quase. Mas começa. Beija o rosto, assanha o cabelo, dá calafrio. Frio. Desses, na barriga. Se você segurar a minha mão bem bem forte, talvez ainda possa ficar. E olho de relance pra ver se você tá prestando atenção ou vai me deixar voar. Sinto flutuar e me dou asas.

sexta-feira, novembro 04, 2005

E teve aquele filme: Oldboy. Assistido com olhos grudados. Aí, a boniteza de Gang Hye-jung, despertou aquela antiga vontade de ser linda, loira e japonesa. Com sorte, em outra vida, beibe...Depois, teve aquela conversa toda sobre Diadorim, que ela re-descobriu por minha causa, que descobri por causa dela. A gente achou tão, tão. Porque a gente é do tipo de gente que acha tão, tão uma coisa assim. E tiveram as ligações. Duas. Na primeira: "tô indo pra farra" e confesso que fiquei amuada, porque tô doente e precisada de atenção e carinho. Na segunda, toda aquela confusão de sentimentos: quero-não-quero e quero. Um puta-que-pariu sem tamanho ecoando aqui dentro e me tirando o sono. A tal farra não foi tão grande assim. Fiz manha, ganhei dengo. Tentei aquietar o coração. Tarefa das mais difíceis. Abro os olhos e uma noite inteira não foi capaz de me fazer esquecer o quero-não-quero e quero. Ainda e apesar de. Enlouqueço querendo matar o mito. Penso em estratégias e armadilhas e perdida em pensamento, acabo tropeçando num sorriso amarelo. Levanto e, depois do susto, sorrio de volta. Meio encantada, muito curiosa. Me distraio de mim.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Psssssiu...


Porque ela era toda silêncio. Cansada das palavras que estava. Todas. Já tão gastas. E quando ele foi embora, não chorou, não saiu correndo porta afora, nem gritou seu nome bem alto. Ficou ali. Parada. Não sentia nada. E esse vazio preenchia tudo.

Ilustração da Aline Jobim, que encheu meu dia de encantamento.

domingo, outubro 30, 2005

Porque é onde eu estou, agora.

Na casa preta e branca tem almofadas coloridas, rede na varanda e cortina com smile no banheiro. Tem coração rosa de malha com bolinhas de isopor, rádio em forma de sapinho e luminária vermelha. Na casa preta e branca, a gente acorda cedinho pra nadar, assiste os melhores filmes com pipoca de microondas e almoça lasanha aos domingos. Das de verdade. Na casa preta e branca tem colo, cafuné e sorriso por tudo que é lado. Tem música da boa, a gente cantando e dançando. Na casa preta e branca tem pedido de fica mais um pouquinho, tem vontade de ficar mais um pouquinho e tem abraço de saudade na hora de ir embora.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Dos capítulos tantos.

Você olhou pra trás no exato momento em que comecei a contar, quase em silêncio: 10, 9, 8, 7... E você gritou e me chamou de filha da puta e num só fôlego acabou com a distância impossível que existia entre a gente. Na força do encontro, seu abraço doeu. Chorei pra sempre toda a espera, toda a angústia, todo o meu não saber o que fazer com esse amor. Aí, a sua boca mordeu a minha tristeza e arrancou um sorriso à força. Fui feliz.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Dos defeitos. Meus e dos outros.

Eu tenho ciúmes. Ponto. E se me disserem - mais uma vez - que este é um sentimento egocêntrico e castrador vou ter uma crise de riso. Porque quem aqui não for egocêntrico e castrador nesse sentido, que levante a mão e prove o contrário. Du-vi-do. Eu até admito ser egocêntrica e castradora, mas desonesta com os meus sentimentos, não sou não. Mesmo com os feios, que são tantos. Mas, não se preocupe. É ciuminho bobo, fogo de palha, vai embora assim como veio: vrum! E se faz mal a alguém, esse alguém sou eu. Posso conviver com isso.

Hoje tive dia assim: foda. Dia de querer uma coisa e bater o pé pra conseguir. E nem era coisa tão desejada assim... Mas é que não peço muito e acho injusto me negarem o pouco que quero. Aí, faço birra. Sim, sim, também sou infantil. Aí, cheguei em casa exausta, deitei e dormir. Acordei agora com telefone tocando e convite pra visitar a casa lilás. Huuuuum... Preguiça. Melhor esperar ele chegar, deitar no colo e desfiar o rosário de queixas de dia difícil pra ganhar consolo. E por falar em consolo, não tem melhor que saber que amanhã é sábado e eu vou poder dormir até.

sábado, outubro 15, 2005

...

Acordei em cima da hora, porque sempre acordo em cima da hora, porque sempre preciso dormir mais um bocadinho... Aí, a gente tomou banho, troucou de roupa, comeu rapidinho e foi pro cinema. Filminho assim, assim. Almoço total de delícia. Momento menina perdida na papelaria e agora já posso mandar aquela carta azul. Parada na locadora e constatação de que sempre pego mais filmes do que posso ver, assim como compro mais livros do que posso ler. Supermercado. Queria fazer minhas compras pela Internet... É que acho tão, tão chato! Acho que é por isso que sou a pessoa que faz supermercado mais rápido que conheço (não poder gastar muito também deve contar...). Embora, não tenha ido ao supermercado com tanta gente assim pra ter como referência. Enfim... Casa! E cama. Mais filme. Filme até agora. Mas nenhum que valha a pena colocar na listinha daqueles que se deve assistir. Agora é esperar. O telefone tocar ou ele chegar. Espera boa. Mas, não deixa de ser espera. E, espera, vocês sabem...

quinta-feira, outubro 13, 2005

Dia das Crianças feliz

É que ontem Valentin tomou conta do meu coração de tal forma, que esqueci de dizer que tive Dia das Crianças Feliz. Teve visita à Bienal de Livros com Tutu, com direito a suspiros (de comer) no caminho. Horas e horas zanzando (porque achei bonito quando ela disse que gosta de ficar zanzando na cozinha, enquanto as pessoas fazem comidinhas gostosas) no Centro de Convenções. Tive medo do nome dos livros infantis. Não encontrei nada assim novo, nem nada assim barato. Fiquei com pé doendo. Mas, gosto de passeio. Além do mais, tinha que ir, vocês entendem... Voltei pra casa e teve sessão cineminha e preguiça. Tentei barganhar massagem, mas não deu certo. Em compensação, ganhei sanduíche total de delícia. Minha mãe apareceu de surpresa (Saudade é mal de família). Teve voltinha pela cidade, parada no Paço, língua queimada com café e exercício de resistir à tentação na Cultura. Encontrei também meu pai e foi quase uma reunião familiar. Sugeri presentes e eles riram como se fosse piada. Família bem-humorada, às vezes é foda. Antes de dormir, ligação interurbana dessas longas, porque preciso de notícias de quem eu amo, e uma demora danada pra pegar no sono, depois de dia cheio. Ufa.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Ausente

É que, às vezes, mesmo estando no centro, você se sente fora.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Nothing's wrong when Molly smiles


Porque depois de um dia daqueles, ela liga e diz: "não sai daí, que eu tô chegando". Eu pergunto: "Tu tá onde?" e ela repete, já morrendo de rir, como profunda conhecedora da minha impaciência: "não sai daí, que eu tô chegando". Arrumo as minhas coisas e fico mexendo no computador pra matar o tempo. Minutos depois, ouço a gritaria lá fora. Me despeço do pessoal porque sei que ela, porque ninguém mais poderia fazer uma bagunça daquelas. Saio e ganho abraço melhor do mundo, desses onde a gente cabe direitinho, desses de onde não se quer sair nunca mais. Depois, começo a falar apressada pra resumir as novidades de meses inteiros. E ela ouve atenta, pra não se complicar com tanta gente nova, com tantos novos acontecimentos. Prometo e-mail detalhado com nomes, datas e lugares. Talvez, precise fazer info-gráficos... E a gente morre de rir. Porque a gente morre rir. Não tem jeito. E ela diz que tava com muita saudade disso tudo e eu penso o mesmo, mas não digo nada, porque não é preciso. Ela sabe. Porque ela... Sabe?

"Though we're apart, she's a part of me
Molly smiles with the dawn
Molly smiles and she radiates the glow around her halo
When she plays, Molly smiles
On a summer day, Molly smiles
A new day, Molly smiles
When I come home, Molly smiles with the dawn
Molly smiles and she radiates the glow around her halo
When she plays, Molly smiles
On a summer day, Molly smiles
A new day, Molly smiles
When the days have gone grey,
Nothing's wrong when Molly smiles"


quinta-feira, outubro 06, 2005

Da morte do pensamento

E a menina ficou ali parada, olhando a cidade refletida no rio. De cabeça pra baixo, exatamente como ela estava se sentindo. E o reflexo do que era estável se movia na água, ao sabor do mesmo vendo que brincava com seu cabelo. E quanto mais escuro ficava o céu, mais luzes se acendiam no Capibaribe. E os olhos da menina nadavam, indo e vindo no ritmo da correnteza até que todos os pensamentos morressem afogados.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Definição

Acho que apatia é quando uma vontade bem, bem grande acaba cansando de tanto tentar acontecer e não conseguir.

Vazio tamanho

E um apartamento tão, tão pequeno, parece enorme sem ele.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Ele veio

E trouxe de volta peixinhos azuis.

quarta-feira, setembro 28, 2005

É aqui.

Hoje, a sua voz me deu sossego. Foi como chegar em casa, depois de dia cheio, tirar o sapato e me jogar na cama de olhos fechados. Ficar parada, sem mover um músculo sequer, aquietando o pensamento. Deitei no teu colo e disse: tô cansada. Porque não havia mais nada a dizer. E você cantou pra mim os seus dias. Curioso não sentir o desespero de antes, nem o medo de depois. Acho que encontrei o lugar que procurava ao seu lado. Quero sair mais não. Posso dormir aqui?

terça-feira, setembro 20, 2005

Trato

Você me fala do seu Recife e eu te mostro o meu.

sábado, setembro 17, 2005

Constatação

Eu tenho pressa, mesmo quando tô parada.

quarta-feira, setembro 14, 2005

E hoje eu descobri o que me assusta...

É essa suspensão da realidade que você provoca. Essa vontade de gritar, de sair correndo, de bater todas as portas. Esse formigamento. Esse desespero, destempero, desatino. Uma espécie de loucura completamente consciente, mas nem por isso sã. É só a tua voz aqui dentro, girando, girando, girando. Você vem e a minha casa não serve mais de morada, a minha realidade se torna inconsistente e o meu norte muda de direção.

Agora, me diz se não é assustadora uma coisa dessas?

quinta-feira, setembro 08, 2005

É que...

Ele me viu mais de perto que qualquer outra pessoa e mesmo assim quis ficar.

quinta-feira, setembro 01, 2005

E mesmo quando vai, ele fica

É que quando ele vai embora, deixa um... Qual é o coletivo pra vaga-lumes? Existe um coletivo pra vaga-lumes? Se existe é isso que ele deixa, bem no coração da menina. Luzinhas na escuridão. Luzinhas de todas as cores, que continuam piscando mesmo quando o menino não está mais por perto. É como se ele deixasse esse presente pra hora da ausência. E a menina sorri. Um sorriso bobo. Porque como é que ela pode pensar em coletivo-de-vaga-lumes-coloridos sem um sorriso bobo? Tem jeito não.

Purgatório

Tô jogando Amarelinha há quase quatro meses. Todo dia, todo dia, sem parar. Mas não tem jeito de chegar ao céu. Por mais que tente e queira. Eita pedrinha pra cair no lugar errado, eita pessoa que não acerta a mão...

quarta-feira, agosto 31, 2005

Histórias da Menina

E um belo dia, a menina descobriu que gostar podia ser quase uma brincadeira. E sorria, cheia de deslumbramento. Um sorriso sem fim, desses que não desgrudam do rosto. E o bom era ver o sorriso duplicado, repetido. Porque quando o menino olhava pra ela, virava espelho, um espelho que refletia a mesma menina, toda colorida.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Desejo

Hoje, o que eu queria era desgrudar o meu querer de você. Bem devagarinho, pra não doer tanto.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Deita aqui no meu colo, que eu vou te contar um segredo:

Quando você nasceu, a fada dos sentimentos, que é amiga daquele bicho que dá nome às coisas, soprou essas estrelas nos teus olhos. E é por causa delas que você vê tudo assim mais florido. É por causa delas que as suas ruas viram jardim. É por causa delas que os seus dias cinza têm mais cores. É por causa delas que a sua lua brilha feito sol. É por causa delas que a sua chuva vem sempre acompanhada de arco-íris. O encanto só tem um problema (Todo encanto tem um porém, você já deve saber...): só funciona de dentro pra fora... E é por isso que você não consegue perceber o tamanho da beleza que guarda atrás dos olhos...

sábado, agosto 20, 2005

Às claras

Essa noite, não escureceu.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Dengo

E quando à noite faz frio, vou pra bem perto, bem perto, bem perto dele e peço abraço. E ele, ainda dormindo, passa o braço pela minha cintura e se aconchega. Vem pra bem perto, bem perto, bem perto. Aí, fico sorrindo com cara de boba, mesmo que já passe das 3:00 da manhã e saiba que no outro dia vou precisar levantar às 7h, mesmo sem dinheiro, mesmo achando que tá tudo uma merda, mesmo sem saber que porra fazer da vida, naquele instantinho sou toda felicidade e acho a coisa mais gostosa desse mundo dividir o cobertor.

Falta

E quando você não vem, parece que o dia fica faltando. Não consegue ser o que nasceu pra ser. É incompleto. É pouco. É quase. E eu sorrio. Disfarço o coração apertado e os olhos que insistem em te procurar onde quer que eu vá. É que você aqui dentro e só aqui dentro, às vezes, não é o bastante. Hoje, por exemplo, não foi.

quinta-feira, agosto 18, 2005

De pai pra filha (do meu, pra mim)

"Eu sempre vou te amar
(Minha filha)
Porque você é Briza,
Porque te admiro Muito,
Porque teu coração é muito Grande,
Porque tua sensibilidade é Enorme,
Porque tua bondade é Plena,
Porque tua luta é Brava,
Porque você é Superlativa,
Porque a você não é preciso pedir Perdão ...
Seriam tantos porquês. Não dá para falar todos...
Enfim, você é algo assim, é tudo prá mim,
É mais que pensei...
É mais que sonhei (Como diz a canção).
Obrigado pela felicidade e orgulho que sua declaração de amor me proporciona,
É um troféu de valor inestimável,
Ficará guardado no fundo do meu coração ao seu lado...
Minha maior alegria é pela sua grandeza.
Porque só os "Grandes de Coração" conseguem enxergar tanto nos tão simples...
Obrigado, Minha Menina Linda!"

Marcos,
16/08/2005

Porque ele leu o que escrevi no Dia dos Pais. E me telefonou aperreado, dois dias seguidos, pra saber se tinha chegado e-mail com surpresa bonita, bonita. Ô, pessoa que eu amo nessa vida!
Eu que agradeço a tu. Por isso, por tanto, por tudo.

terça-feira, agosto 16, 2005

Antes de agora

E era um tempo em que eu tinha mais tempo. E quando a tarde chegava melancólica, caminhava sozinha até à praia. Sem pressa. Porque não tinha pressa. Nunca tinha pressa. E meus olhos ainda conseguiam distrair o pensamento. Ainda era de fora pra dentro. A calçada terminava e começava o horizonte. Tirava a sandália e ia caminhando pela areia branca até chegar mais perto do mar. Sentia a água cobrir meus pés. Indo e vindo. Indo e vindo. Depois, sentava pra ver o céu mudar de cor numa festa azul, lilás e púrpura, com todas as suas nuances. Era bonito ver a cidade acender. Uma janela, duas, dez, todas. Milhares. E era hora de voltar pra casa, apressada. Porque o vento que vem do mar à noite é frio, de arrepiar até a alma e eu só podia me aconchegar em mim mesma. Não era o bastante...

segunda-feira, agosto 15, 2005

Para a menina Margarida

E quando eu penso nela, penso em flores, de todas as cores, um jardim inteiro. Porque ela é Margarida. E eu bem-a-quero. Pétala sim e a outra, também. Quando penso nela, penso também em estrelas. Essas que ela guarda atrás dos olhos. Porque ela é menina-vagalume que brinca de esconde-esconde. Depois, aparece e ilumina. E me faz sorrir mesmo no meio da noite mais escura.

Quando penso nela, penso em aquarela. Em lápis de cor. Em colar de contas. Penso em areia branca. Em vento no cabelo. Em ciranda à beira-mar. Penso em pôr-do-sol cor de rosa, mesmo sabendo que ela prefere lilás. Penso em banho morno. Em pés descalços. Em brigadeiro derretendo na boca, fazendo a gente fechar os olhos e lamber os lábios. Porque pra mim ela é assim: doce.

domingo, agosto 14, 2005

Pro meu pai. Porque não há outro homem.

Porque acordo e vou dormir sabendo que tem um cara que me ama incondicionalmente, apesar dos meus defeitos, falhas e faltas. E que me telefona todos os dias, todos mesmo, só pra saber se tô feliz e quanto "de zero a dez".

Porque basta chamar e ele tá aqui. Seja aqui, onde for. E ganho o melhor abraço do mundo e posso chorar em silêncio, sem precisar dizer nada. E ele me faz cafuné com a mão pesada que já conheço tanto e tão bem. E me sinto protegida e sei que nada de mau vai me acontecer.

Porque a única vez que o vi chorar foi por minha causa e aquela dor tão grande, fez meu sofrimento dar lugar a necessidade de superar. E ele tava ali, segurando a minha mão, me olhando com aqueles olhos atentos, até sentir que eu podia caminhar sozinha.

(Finjo que não sei, mas ele nunca foi embora... Só disfarça pra que eu me sinta mulher adulta e independente, sem saber que adoro ser menininha às vezes e não me preocupar com nada mais. Talvez ele também finja e, no fundo, saiba.)

Porque ele vive. De forma total e absoluta. E aproveita cada dia, como se fosse o único. E tem essa vontade, essa energia e esse amor à vida, que me foi concedido como herança. E porque me diz que a gente tem mais é que ser feliz e pra isso não existem regras. O que me dá coragem pra traçar meu próprio caminho, sem precisar rascunhar antes e passar a limpo depois.

Porque
se eu tivesse a chance de escolher outro homem, qualquer um, no mundo inteiro, escolheria ele. E se pudesse inventar, criar alguém à imagem e semelhança do meu ideal, inventaria ele.




quinta-feira, agosto 11, 2005

Hoje a saudade deu um nó aqui dentro. Nó cego. Nó sem dó. E eu desatei a pensar em você. E me dei conta de quanto (e tanto), a minha vida tá amarrada na tua.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Aí, ele me perguntou se tinha lido o blog hoje...

"Ela sentia o cheiro do mar. Sempre. Nasceu no extremo alto do país, na varanda de uma casa em frente à praia. A casa era branca, a areia também. Ela levou isso consigo a vida inteira. O Sol refletia nos seus olhos, o que lhe dava uma cara de eterna apaixonada, suas ações não conseguiam desmentir essa impressão. Falava baixo, mas escrevia de forma gritante, suspiros longos entrecortados com risadinhas abafadas era o mais comum no dialogo. Quando saiu de perto do mar, afinal sempre fora junto com o destino, ou vento, sempre era levada para onde quisessem leva-la. Tinha opinião sim, mas as pessoas não conseguiam enxergar. Quando chegou na casa nova ficou perdida, não conseguia sair do quarto, faltava algo muito importante. Faltava aquilo que sempre a guiava. Sempre fora obediente aos seus instintos e se baseava nos sentidos para poder viver. Foi tolhida. Faltava o que a sustentava nas andanças pela cidade, nos corredores do cinema, na grama das praças, faltava um cheiro e uma sensação de segurança que teve desde o primeiro contato que teve fora da sua mãe. Faltava a brisa."

Ronaldo Ventura

Esperando

Eu escrevo aqui enquanto não posso desenhar na sua pele.

terça-feira, agosto 09, 2005

E você não veio...

E por não ter vindo, me mostrou que não precisa vir, para estar. Assim, em todo lugar. O tempo todo. Desconfio que more aqui dentro. Cruzo os dedos pra que fique, descubra que sou um bom lugar. Desses em que a gente entra sem pedir licença, tira os sapatos, espalha as almofadas no chão e lê o livro preferido até pegar no sono. Mas, faço um esforço danado pra não pensar e não querer essas coisas pra nunca mais, porque você me fala sobre inconstância. E esquece que a inconstância só existe graças à constância das mudanças. Uma atrás da outra, uma atrás da outra. Numa seqüência sem fim. E, sem fim, você sabe, é pra sempre.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Deus deve existir

Nunca houve presente mais bonito que o papel de presente do presente que eu te dei.

terça-feira, agosto 02, 2005

Por que?

Porque toda noite ele me abraça e me salva de mim mesma sem que eu precise pedir.

sábado, julho 30, 2005

Hipnose

E meu olhos ficaram presos ali, naquela quase linha reta que ia do finzinho das suas costas até onde começava o cabelo. E as minha mãos, mortas de inveja, queriam seguir o mesmo caminho...

quarta-feira, julho 27, 2005

Entendimento

Aí, hoje pensei: “não sei o que seria de mim, sem ele”. Ia sobreviver, claro. Mas, que ia ser muito triste e difícil, isso ia.
Porque é bom acordar de manhã, abrir os olhos e dar de cara com aquele sorriso que ilumina tudo.
É que ele sorri de um jeito tão verdadeiro e tem essa alegria de viver que é uma coisa linda.
E ele agüenta meu mau-humor matinal e às vezes ainda compra sanduíche na padaria, pro meu dia começar de um jeito mais gostoso.
E ele me abraça e faz de conta que é travesseiro até a hora de ir embora e quando tenho medo e me sinto insegura ou sozinha no mundo, ele me traz na agência, mesmo chegando atrasado no trabalho.
E às vezes ele me liga pra dizer que tá com saudade ou pra contar uma novidade boa ou pra dizer que tá preocupado com não-sei-o-quê.
Porque tem isso da gente dividir as coisas.
Quase todas.
E quando eu digo que a minha vida tá uma merda, ele me olha como quem não entende. E também não entende quando digo que a minha cabeça ta tão cheia de pensamento, que acho que vou enlouquecer.
Eu faço cara de que: “ah, querido, assim fica impossível” e ele ri e não leva a sério e me dou conta que talvez não seja tão sério assim. Aí, ele me chama pra sair, pra qualquer lugar, fazer qualquer coisa, porque acha que assim posso me distrair de mim mesma.
Às vezes, ele quer atenção e fala sem parar e eu, distraída, continuo o que to fazendo e ele reclama, amuado. Vai pro quarto e deita na cama feito criança que faz birra. E eu vou até lá e peço desculpa e brinco e falo besteira até que ele comece a rir e fique tudo bem.
E só sossego quando fica tudo bem. Porque parece que tá tudo quebrado, partido, amassado, quando não é assim...
E o cheiro da pele, a voz com sotaque, o calor do abraço, o sorriso desavergonhado, o olhar concentrado, os passos no corredor... Já fazem parte de mim de tal forma, que às vezes me distraio e penso que são meus.
Nesse momento, entendo exatamente o que Quintana quis dizer, quando escreveu que amor é quando a gente mora um no outro.

quinta-feira, julho 14, 2005

Margaridas

Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-te-quero, mal-te-quero, bem-ou-mal, te-quero.

terça-feira, julho 12, 2005

Não, você não poderia entender.

Se nunca acordou do meu lado e me ouviu reclamar durante meia-hora por ter que levantar cedo. Nunca passou a noite me ouvindo falar besteira pra tentar enganar o sono que insistia em chegar. Nunca me viu arregalar os olhos de surpresa. Nem morder os lábios pra não falar. Nunca caminhou comigo em silêncio pela cidade. Nunca mergulhou comigo no mar. Não me viu balançar na rede. Nem me ouviu gritar na montanha-russa. Não sabe que a minha mão é muito mais quente que o resto do corpo. Nem que meu sorriso chega primeiro nos olhos que na boca. Nunca penteou o meu cabelo. Nunca se escondeu atrás da porta pra me dar um susto ao chegar. Nem reclamou comigo porque insisto em deixar o telefone tocar. Não me viu rir até chorar, nem chorar até soluçar. Não me disse que ia ficar tudo bem quando tive medo. Nem sentiu meu coração acelerar. Não, você não poderia entender...

segunda-feira, julho 11, 2005

A Flor das delícias

"A trança que se desfez com a Briza que se desfez do vento que se fez
dos dias insólitos daquela alminha presa na luz do tempo...

Um Mundo todo se formando da Briza, a fada encantada, pedacinho de

vento que não se desfaz...

Um mundo em forma de prisma que reflete o sol em várias cores, das
quais nascem flores que são as mães da árvores que existem lá... muito além
dos montes intransponíveis do pensamento, onde há vida mesmo nas folhas
secas e flores murchas, onde há samba tocando o tempo todo e cheirinho
de uma planta especial: uma flor que nasceu do coração do mundo, flor
que às vezes murcha e exala uma fragrância que atrai todo amor, e quando
sorri transforma pétalas em mãos e acaricia a vida,rainha do mundo das
delícias..."

Ô moca, e eu digo o quê?
Eita, que esse povo inspirado me quebra...
Brigada Andressa Drelícia

sábado, julho 09, 2005

Ana, a menina gigante

Ana é menina, bailarina. Aquela que rodopia sobre a caixinha de música. A cabrocha de todo samba. Samba de preto velho, salve-simpatia, samba de preto tu. Menina Carnaval, confete e serpentina. Ela que enfeita a noite com purpurina e ilumina tudo com as luzes de Olinda. Ana é saudade como o sol que esquenta a pele em tarde morna. À beira mar. Porque ela é barulho de mar quebrando. Bossa nova. Banquinho e violão. Ana é tão grande que não cabe nem em todas as palavras. É maior que a distância entre Recife e São Paulo. Maior que todos os braços juntos num só abraço. Tão grande que não cabe em si e se espalha pelo mundo. E o mundo, encantado, agradece.

quarta-feira, julho 06, 2005

Ela veio

A sua carta chegou e os meus olhos estão cheios das suas palavras.

Sorte no jogo

Você é cara e é coroa.

terça-feira, julho 05, 2005

Dilema

A menina deita no sofá com o telefone no colo. Começa a discar e pára. Coloca o fone no gancho. Mãos geladas, coração acelerado. "Não, melhor não". Respira. Conta até 10. Brinca com o teclado. Mais um tentativa. "Aaaaaaaaaaaai, não". Desliga. Olha pra televisão, sem ver. Pensa que precisa dar um jeito de fazer exames, marcar médico, arrumar o guarda-roupa, começar a ler Don Quixote, ganhar mais dinheiro, passar na casa da mãe, copiar uns CD´s... ligar, ligar, ligar. Levanta. Vai tomar uma água. Cantarola uma música porque não sabe assoviar. Procura alguma coisa pra comer, não encontra. Volta pra sala. Senta no sofá. Pernas cruzadas. Põe o copo de água no chão e o telefone no colo. Os dois se encaram, demoradamente. Ela respira fundo. "Pára com isso! Você já fez coisas muito mais difíceis"... "É, já fiz coisas muito mais difíceis, como... como..."

domingo, julho 03, 2005

O comentário que virou post

"Há pessoas que gostam dos cataventos porque giram sem sair do mesmo lugar.Outras, porque se movem com a Briza mais leve, imobilizados, contudo, face à ventania exagerada.Outros, ainda, porque cataventos lembram a infância, que não sabem que não perderam.Aos cataventos, entretanto, resta tentar entender todas estas pessoas, que o amam, mas não o sabem, porque somente os iguais, outros cataventos, podem fazê-lo."

Ed, de novo.
Bem dizer, um blog escrito a quatro mãos...

Vazio

E eu sinto falta de alguma coisa que não sei o que é. Digo que é de você. Mas, não é verdade. Porque não é só isso. Essa falta já existia muito antes de você chegar. Acho que às vezes complico as coisas e faço tudo do jeito mais difícil. Talvez, tenha feito escolhas erradas. Talvez, não tenha tido escolha. Sinto culpa e peço desculpas. A mim mesma. Porque, de vez em quando, me esqueço. Tenho crises e acho que a minha vida tá uma merda e que as coisas estão fora do lugar. Derrudo tudo e começo a arrumar. Canso, choro e rio de mim mesma. “Puta que pariu, Briza, que bagunça você fez”. E resolvo não me levar tão a sério. Nessa hora, jogo fora meus papéis e meus problemas. Escolho uma música pra ouvir bem alto. Canto e danço no escuro. E mesmo de olhos abertos, não vejo nada.

quarta-feira, junho 29, 2005

Imagem e semelhança

Quase consigo ver a menina (e me ver na menina) escolhendo as palavras mais bonitas. Tentando reunir toda sorte de lembranças e desejos num só parágrafo. Como se sentimentos tão intensos, pudessem se aquietar, ficar em silêncio e se transformar no desenho dessa mariposa que resolveu pousar bem no céu do jogo da amerelinha.

segunda-feira, junho 27, 2005

Presença

Acordei e você tava aqui. Na minha cama. Na minha casa. Ficou me olhando, enquanto eu tomava banho, trocava de roupa, tomava café e saia apressada. Depois, apareceu bem na hora da reunião. Como é que não percebi quando você entrou? Como é que as pessoas continuaram agindo normalmente com alguém estranho por perto? Ninguém fez nada, ninguém disse nada. Nem nessa hora, nem quando você surgiu no meio de um anúncio que o chefe cobrava aos berros. Eu tentei disfarçar. Juro que tentei. Escondi você no meio das minhas palavras. Mas, você escapou e invadiu os e-mails que escrevi, os recados que deixei, os telefonemas que fiz. Assustada, voltei pra casa. E foi você quem abriu a porta. Assim, como as janelas. Todas. Passeou pela noite. Rabiscou seu nome no meu livro de cabeceira. Sem saída, murmurei um samba como se fosse uma prece e, de olhos fechados, vi você dançar.

quinta-feira, junho 23, 2005

Porque ele é o cara com quem um dia eu casei.

Ele é como o sol, num céu azul sem nuvem. É a minha família fora de casa. É a minha casa. É pra onde volto. É meu porto seguro, meu abrigo, meu alento. Ele faz meus problemas parecerem menores e as minhas alegrias, maiores. Me conhece frente e verso. Me reconhece até pelo avesso. Me dá colo quando preciso chorar e, depois, me faz rir de mim mesma. Acha graça das minhas crises existenciais e dos meus problemas sem solução. Me faz perceber o encanto das coisas mais simples e me mostra o tempo todo como a vida pode ser bonita. Me dá corda, me dá asas, mas segura a minha mão pra eu não tropeçar. É que ele é assim, o meu anjo da guarda, que me proteje de todo mal, amém.

Feliz aniversário, Tutu.

terça-feira, junho 14, 2005

Uptown Girls

Porque muito antes de Clementine, ela já tinha cabelo azul. Ela era azul. Azul não. Toda colorida. Colorida e cheia de penduricalhos. Como a nossa casa no Mexico. A casa que a gente ia ter, com paredes cheias de fotografias, desenhos e poesias. Dela. Eu ia precisar fugir de lá de vez em quando. Como precisei fugir dela de vez em quando. Como ela precisou fugir de mim de vez em quando. Eu tinha a cabana. Ela a caixa. E a gente costumava escapar uma da outra. Porque a proximidade era tanta que às vezes dava vertigem e tudo que a gente queria era sair correndo pra bem longe. Outras vezes, ela me abraçava pra nunca mais e eu começava e terminava no espaço dos seus braços. E ela dizia que eu era dela e eu sabia que ela era minha. Eu e ela. Duas. Muitas. Uma.

quarta-feira, junho 08, 2005

Desejo

E quando você vier, vou pintar a casa de azul e desenhar borboletas de todas as cores pra dar asas aos seus sonhos. Quando você vier, vai ter samba e amor até mais tarde e muito sono de manhã. A gente vai morrer de preguiça e se esconder do tempo embaixo das cobertas, enquanto a vida corre apressada lá fora. Quando o barulho da rua falar mais alto que o silêncio do quarto, a gente troca a cama quente por um banho gelado e vai tomar café na padaria: “Pão manteiga, moço”, porque você diz que assim é mais bonito e eu acredito.

Ontem

E nem a chuva que caia assustadoramente, foi capaz de me deixar melancólica. Porque depois de um dia inteiro de espera e angústia, você apareceu. E cada vez que você sorria, uma porção de vaga-lumes invadia a minha alma e iluminava tudo aqui dentro.

terça-feira, junho 07, 2005

Vazio

É muito, muito ruim quando só consigo encontrar você aqui dentro.

terça-feira, maio 31, 2005

Sempre preferi montanha-russa a carrossel

Descobri que tenho uma certa predileção pela taquicardia. Gosto do frio na barriga. Do susto. Da surpresa. De sentir o rosto esquentar e o corpo estremecer. De me perder nas suas palavras. De te encontrar nos meus pensamentos. Da bagunça que você faz no meu dia. Da falta que você faz na minha noite. Gosto da expectativa e desse não saber o que vem depois. Gosto desse amanhã que preenche o meu hoje. Gosto de imaginar que não sei pra onde estou indo, mesmo sabendo que meus passos seguem em sua direção.

terça-feira, maio 24, 2005

Aí, acontece de alguém descobrir a senha

E entra na vida da gente de um jeito que abre todas as portas e janelas. É tanta luz que não se vê mais nada, mas o calor que aquece a pele, compensa a falta de nitidez.

quinta-feira, maio 12, 2005

Chuva que não passa

Vamo passear? Eu sei que tá nublado. Mas, assim é melhor porque não faz calor. Andar com o sol a pino é que é de matar... Não, não vou levar guarda-chuva. Não gosto de guarda-chuva. Se chover? Se chover a gente se molha ou corre pra baixo de alguma marquise e fica lá até passar. Rindo por estar na rua no meio de um temporal. Rindo das outras pessoas que estão na rua no meio de um temporal. Talvez, alguém olhe pra gente com ar de reprovação. Talvez, alguém olhe pra gente com ar de cumplicidade. E a gente vai rir mais ainda. Rir até cansar. Depois, vai sentir uma certa nostalgia pela cidade pintada de cinza. E suspirar. Aí, vou pegar na sua mão. Encostar o meu lado esquerdo, no seu lado direito. Sentir a sua pele quente e vontade de abraço. Abraço. Vou deitar no seu peito e fechar os olhos. Você vai descansar o queixo sobre a minha cabeça e resmungar. É, você sempre resmunga, tá vendo? E eu sempre pergunto porquê, mesmo quando sei a resposta. Gosto quando você me explica. Qualquer coisa. Você fala com calma, mesmo quando tá puto. Tentando me provar, por A + B, que é o dono da razão e eu, uma louca inconseqüente. Sim, sim, voltando ao passeio... É, tenho que parar com essa mania de mudar de assunto assim de repente. Mas, é que agora não tô com vontade de passear mais não. Vem cá. Tá nublado, né? Acho que vai chover. Melhor nem sair da cama...

terça-feira, maio 03, 2005

Menos é mais

Eu vejo o mundo através dos detalhes. A parte, antes do todo. A palavra, antes da frase. A cor, antes do quadro. Vejo o mundo através do fragmento, das entrelinhas, das nuances. Do pouco, do pequeno, do quase, do que ainda não é. Levo comigo uma lente no aumento, um amplificador dos sentidos, que me faz perceber aquilo que não se vê a olho nu. Não me distraio com o óbvio. Vivo o encanto de ir além.

domingo, abril 24, 2005

Viagem ao revés

Ele acordou com aquela sensação de vazio e falta de sentindo que às vezes acomete a gente, mesmo quando não existe razão aparente pra isso. Fechou os olhos. Inspira-expira-inspira-expira. Contou até 10. Até 100. Até 1000. Contou até perder as contas. E não passou. Abriu os olhos e achou o quarto pequeno demais. A casa pequena demais. O mundo pequeno demais. Soube que tinha que fugir. Pra longe. Pra dentro. E saltou no abismo. Sem pára-quedas. Sem proteção, mas também sem medo. E foi a última vez que foi visto.

sábado, abril 23, 2005

Os investigadores estão chegando

Eles chegaram no final da manhã. Os dois. De capa, chapéu, cachimbo, lupa e pasta. Entraram, sentaram. Ofereci café, mas eles não bebem em serviço. Depois de um certo constrangimento inicial e natural, começaram o interrogatório de dois contra um, que logo se transformou numa conversa a três. Das boas. Ouviram, observaram, se distrairam e revelaram um tanto sobre eles... E a certa altura, já não sabia quem tava investigando quem e se, realmente, isso tava acontecendo. Suspeito que não. Mas, sou a mocinha aqui. E o meu papel é ser ingênua e acreditar na boa vontade da humanidade. Depois de algumas horas, eles se levantaram, se despediram e foram embora apressados. Na agonia, esqueci de dizer que voltassem quando quisessem. Mas, como eles estão sempre dando uma olhada no meu blog em busca de novas informações, agora já estão sabendo. Nem sei se é de bom tom... Afinal de contas, trata-se de uma investigação. Mas é que eles fizeram o meu dia, que começou vazio, ganhar um não-sei-quê de alegria.

sexta-feira, abril 22, 2005

Diferença

As minhas palavras são mais como cócegas que como beliscões.

quinta-feira, abril 21, 2005

O menino mais bonito

O menino mais bonito tem olhos pequenos e sorriso grande. Desses que começam só com o ar da graça, pra depois virar gargalhada, que toma conta do rosto, do corpo e do resto. Ele fala manso, com sotaque de balanço na rede, tarde de sol e preguiça. O menino mais bonito anda como quem dança. Num ritmo só dele, que não tem os pés no chão. Ele flutua e tenho certeza de que pode voar, quando fecha os olhos e se perde em pensamento. Mas aí, ele ouve a música, desperta e acende a noite.

terça-feira, abril 19, 2005

Verde, amarelo e bum! Vermelho.

Dia quente. Desses de matar. A menina não tira os olhos do semáforo. Verde. Um pé na calçada, outro já no asfalto. Pressa. Ela sempre tem pressa. “Puta-que-pariu-essa-porra-não-vai-fechar-nunca?” Amarelo. Os carros não param. Pressa. Eles sempre têm pressa. Vermelho. Ela olha pra frente e bum! Seus olhos encontram outros olhos e tudo em volta desaparece, a cidade fica em silêncio, chove papel picado dos edifícios. A menina que anda em fast, vê o mundo em slow motion. Ela não quer mais chegar a lugar nenhum, ela quer estar ali e agora: presa naquele milésimo de segundo por toda eternidade.

sábado, abril 16, 2005

Raciada com o vento

Sou vento que brinca com seu cabelo. Embaraço. Você ri. Ri até chorar. Viro redemoinho e bagunço os seus papéis e os seus dias. Vou embora, só pra poder voltar depois ventania. Bato portas e janelas. Você tem medo. Entro sem pedir licença e sopro forte, pra tirar o cisco do seu olho e acabar com essa agonia.

sexta-feira, abril 15, 2005

Olhos nos olhos

Meus olhos passeiam distraídos até que se deparam com os seus. Luz na escuridão. Não pisco, não me mexo, nem respiro... Os seus olhos prendem os meus, como uma mão que aperta a garganta.

terça-feira, abril 12, 2005

Encontro de Menina - Kika Freyre


Para Briza...
um presente suave,
além do vento
além da poesia
além do mar...


"Era uma vez uma menina que era bem feliz.
E Era outra vez uma outra menina que era bem feliz também.
Uma delas morava de um lado do mar.
A outra delas morava do outro lado do mar.
Uma era uma borboleta que voava na brisa.
A outra era a Briza que amaciava o vôo das borboletas.
Elas viviam muito longe.
Elas sentiam-se muito perto.
Uma nunca tinha visto os olhos da outra.
Mas a outra ouvia os passos da menina dos olhos da uma a dançar.
A dançar nos seus olhinhos atentos.
Daqueles que, quando aparecem, iluminam o dia de toda a gente.
E o dia cinza fica colorido.
E a cinza do dia cinza é soprada ao compadre vento.
E com ela vai todo o lamento.
E vai morar numa caixinha onde se guarda o pensamento.

Um dia, a menina desconfiou que nunca ia crescer.
Era domingo.
Chovia.
Ela não sabia se isto era bom ou ruim.
Só sabia que era assim.
E a outra menina topou não crescer com ela.
Deram-se as mãos.
Combinaram ficar juntas.
Comer brigadeiro na panela.
Passar o dia de pijama e meia.
Jogar conversa fora.
E depois abrir a porta para a conversa entrar.

A menina convidou a outra menina para pintar a vida com as cores dela.
E ela sorriu.
Nem precisou dizer que aceitou.
Ela já tinha entendido tudo.
Havia um mar entre as duas meninas, mas nem parecia.
Elas estavam tão perto.
Nem lembravam que o mar as separava.
Vai ver que é porque, na verdade, ele as ligava.
Ele trazia uma quietude bordada nas ondas.


Um alívio.
Um sentimento bom de não estar só.
E toda vez que a menina queria ver a outra menina
Ela ia olhar o mar.
Ela olhava nos olhos do mar.
E via uma menina bela.
Com uma flor.
E um sol gigante.
E um arco-íris.
E asas de borboleta.
Ela pensava que estava vendo a outra menina.
Mas a outra menina morava dentro do coração dela.
Elas eram tão parecidas.
Que as imagens se misturavam com o vento.
E, ao olhar nos olhos do mar.
A menina via os seus olhos piscar.
Era a outra menina a brincar lá dentro".

* * * * *

Braga, XII. IV. MMV


Eu ganhei e nem sei...
Brigada Kika-com-uma-flor

segunda-feira, abril 11, 2005

Mais da menina

Era uma dessas noite sem lua, nem estrelas. O vento que vinha do cais bagunçava o cabelo da menina. Ela e o cara conversavam amenidades sentados na calçada. Ele bebia cerveja. Ela engolia o choro. A menina não aguentou as palavras arranhando a gargante e disse: eu ainda gosto de você, de amor. Ele continuou olhando pros pés, em silêncio. Ela riu, sem graça e soube que não podia mais ficar. Levantou e pegou a bolsa no chão. Deu um beijo no rosto do cara. Ele ainda disse alguma coisa sem importância, mas ela não conseguiu ouvir com o coração gritando assim tão alto.

quarta-feira, abril 06, 2005

Histórias da Menina

A menina acordou de madrugada, com o barulho de chuva na janela. Uma chuva fininha e passageira. Ela ficou ali parada, olhando os carros que passavam apressados, mesmo já tão tarde. E percebeu que o mesmo pensamento que a acompanhava antes de deitar, continuava lhe fazendo companhia. E só então se deu conta que não tinha nenhum controle sobre isso. Que não era ela quem estava no comando. Era o pensamento que a absorvia e lhe prendia como uma teia gigante. Talvez, se ela fizesse algum esforço, conseguisse escapar e sair dali correndo pra bem longe. Mas, ela não queria. Ela se enrolava na teia e ria. Pensando num apartamento, que por algumas horas foi o centro do Universo. Um Universo paralelo. Onde havia música e o olhar do cara que falava mais alto que qualquer palavra. Onde o frio na barriga era o contraponto do calor na pele. E o medo, o contraponto do desejo. Medo de estragar tudo. Medo de ir além. Medo de acabar com o encanto. Um passo em falso e a queda livre... E era difícil caminhar assim de olhos fechados. Sem respostas, sem certezas, só seguindo a intuição. Ela continuou andando no escuro. Até ficar frente a frente com aquele olhar. Que incendiava. E ela achou graça por pensar que poderia ser diferente. Por acreditar que, de alguma forma, o destino pudesse lhe pregar uma peça e levá-la a outro canto. E foi assim que, em meio à confusão e à surpresa, tudo desapareceu. O tempo, o espaço, o mundo lá fora. Sumiram. Como num passe de mágica. Só havia aquele lugar e aquele momento. Mais nada. A vida derretia, se desfazia. Se transformava em luz e cor. Mas um surto de razão tomou conta dos dois... Da menina e do cara. E antes que fosse tarde demais, ela fez a última coisa que queria fazer. Foi embora, sem saber que já não tinha pra onde ir.

segunda-feira, abril 04, 2005

About me

Eu sou mais janela que porta. Mais doce que salgado. Mais noite que dia. Mais silêncio que canção. Sou mais cama que mesa. Mais calor que frio. Mais beijo que aperto de mão. Sou mais cinema que teatro. Mais livro que televisão. Mais prosa que poesia. Mais ficção que biografia. Sou mais detalhes que o todo. Mais distração que concentração. Mais abraço que sermão. Sou mais confusão que serenidade. Mais dia nublado que céu azul. Sou mais antes que depois. Mais começo do que fim. Sou mais filha que mãe. Mais emoção que razão. Sou mais dúvida que certeza. Sou mais do que sei que sou e sei que ainda há tanto pra ser...

sábado, abril 02, 2005

Descoberta

Eu tenho fome de quem eu gosto.

sexta-feira, março 25, 2005

O melhor presente

Quem semeia Brisa

"Velhos ditados costumam ser ao mesmo tempo óbvios e questionáveis. Óbvios exatamente por serem velhos; questionáveis porque frases feitas normalmente são proferidas sem muito critério. Uma delas fala "Quem semeia vento colhe tempestade". Dá medo ouvir isso pouco depois de tomar atitudes agressivas, rápidas, meio inconseqüentes.

Cresci assim, com um certo medo da inconseqüência, mas aprendi algumas lições no caminho. Uma delas é que há formas de contornar esses medos, que são tantos. Medo de errar, de me enganar, de sofrer e - o pior de todos - o medo de fazer sofrer. Isso mesmo, essa empatia exagerada que faz com que tenhamos tanto cuidado em evitar que outros pisem nos mesmos cacos que nos são tão familiares. Aprendi que posso observar os cacos já pisados e evitar os próximos.

Com o tempo, de tanto observar e aprender, é fácil andar mais rápido. Correr mesmo. Às vezes se chama alguma atenção dos mais precavidos, que não sabem de onde viemos, que não percebem que tanta velocidade é o fruto simples e desejado de anos de experimentos, sofrimentos e acertos. Felizmente a alguns é permitido "aprender a voar". Mas isso não é tudo, nem o melhor.

Bom mesmo seria nascer já assim, sem tanta precaução, sem tantos cuidados. Nascer já leve, já sorridente, já perpassando nuvens e cortando os ares. Curioso perceber que esses mesmos anjos-nascidos têm uma quase exaustiva necessidade de se preocupar com as coisas e com os sentimentos. Curioso ver que são eles mesmos que tentam se amarrar e se agarrar em critérios novos ou tradicionais, justamente porque sua natureza é sonhadora e leve. Pensam que nós, os "velhos-velozes", somos livres, quando são eles que já nascem assim, são eles que nos inspiram e nos mostram na prática o que é voar. E mesmo quando não os acompanhamos diariamente, mesmo quando não conhecemos seus passos e o formato de suas asas, ainda assim paira um "je ne sais quoi" que nos salta aos olhos, a nós, bons e gratos observadores.

É muito feliz aquele que reconhece tais personagens, que consegue manter contato com gente assim, gente que se joga. Muitos pensam que são simples inconseqüentes os que se largam desta forma, mas não penso dessa maneira. A verdade, se querem mesmo saber, é que aqueles que se jogam percebem desde muito cedo que suas asas os protegerão das piores quedas. Reclamam bater as cabeças no chão, mas isso nunca acontece, pois sempre levantam, sempre retornam, sempre brilham novamente. A queda aparente é somente a sensação de desnível, um escurecimento momentâneo para nefelibatas em mergulho profundo, acostumados à brancura do sol sobre as nuvens.

Possa você ter menos cuidado e verá também que nem todo vendaval é nocivo, nem todo rebuliço é pernicioso e vil. Verá que mesmo os distúrbios e sons mais inquietantes são apenas intervalos diferentes de um mesmo silêncio; que a quietude e a serenidade não importam tanto porque nunca deixarão de sobrevir aos que se mantém vivos. Verá que com ou sem cuidado extremo não há porque tanto temer o presente que o cerca nem o futuro que já sobe pelos pés. Assim, quem sabe perceberá que lá dentro, bem atrás de todos os medos e desesperanças, há um par de asas querendo sair.

Tenha coragem. Se não nasceu já livre, aprenda a sê-lo. Ou melhor, relembre o que já foi antes, desaprenda essa tanta cautela. Não tema colher uma tempestade durante um vôo qualquer, mas relaxe. Pois há muito mais alegria naqueles que se permitem semear Brisa em suas vidas, todos os dias.

Deixo esta mensagem plantada para o futuro.
E parabéns para você, que já é Brisa!"

Edilton Siqueira
Catende, Pernambuco.

Depois de ganhar um presente desses, posso escrever mais alguma coisa? Só: brigada, brigada, brigada, brigada... Infinitamente.
Esse moço, me quebra!

quinta-feira, março 17, 2005

Silêncio

Aí, ele olha pra menina e pergunta: "e o que é que você quer?"
Ela tem vontade de dizer: você.
As palavras ficam ali, arranhando a garganta.
Porque é isso que ela quer, quando olha pra ele com aquela cara de desespero, de quem não entende, de quem acha absurdo...
Mas, ela não diz nada.
Porque é isso o que ela quer agora.
E, agora, passa.

quarta-feira, março 16, 2005

Uma história pra você dormir feliz

Vamos os três pra aquela praia lá no fim do mundo. Rolar na areia, pegar jacaré, catar conchinhas e estrelas do mar. Depois, a gente constrói castelos e inventa histórias, dessas impossíveis. Canta aquelas músicas que ninguém lembra, mas que a gente nunca esquece. E morre de rir. Quando o tempo for mudando e o dia acabando, a gente acende uma fogueira e espera a lua chegar, cheia e linda. E fica em silêncio, assim como quem reza em pensamento.

segunda-feira, março 14, 2005

Hoje eu queria conhecer o seu país.

Andar por onde você tem andado, ver o que seus olhos têm visto. Queria sorrir pras pessoas que cruzam o seu caminho e abraçar quem cabe nos seus braços. Queria mexer nos seus livros e discos. Assistir o seu filme preferido. Queria dançar conforme a sua música. Calçar os seus sapatos. Sentir o seu perfume. Dormir na sua cama. Queria comer as frutas da sua terra. Caminhar descalça pelas ruas. Molhar meus pés na água do rio. E, depois de tudo, ver o sol se pôr no mar, revertendo todo o meu senso de orientação.

É que hoje eu acordei querendo ser um pouco você.

sexta-feira, março 11, 2005

Você tem medo de quê?

Eu tenho medo de dirigir, de dormir sozinha depois de filme de terror, da Cruz do Patrão, de ficar bem doente, de todos os tipos violência, de perder quem eu amo, de magoar quem é importante, de ser injusta, de não perceber e de mais um bocado de coisa... Mas, o que me assusta de verdade, o que me faz ficar acordada até mais tarde, em pânico, é não fazer, não arriscar, deixar passar e me arrepender. E aí, ter que viver no “se” ou no “quase” que são os piores lugares desse mundo de meu Deus. É por isso que me jogo e às vezes me fodo, mas outras vezes eu vôo e a vista da cidade é a coisa mais linda.

quarta-feira, março 02, 2005

Porque hoje é seu aniversário

Hoje, o caminho pra cabana tá cheio de flores (gérberas, porque você gosta) e borboletas (azuis, porque é a sua cor). Fico imaginando o seu olhar de encantamento, piscando com cílios de boneca e rindo, rindo sem parar. Pensar nisso, já enche meu coração de alegria, mesmo antes de você chegar. Vou deixar todas as portas e janelas abertas, pra música se espalhar no ar. O vento, que é meu camarada, vai levar as notas pra você dançar. Linda, feito bailarina. Vou colocar todos os meus desejos de felicidade numa caixinha dourada que vai ser o seu tesouro e um pouquinho de pozinho mágico pra você realizar tudo que sonhar. Escolhi as palavras mais bonitas e preparei o meu melhor abraço. Abri a minha casa e o meu coração pra você. Entra. E fica.

sábado, fevereiro 12, 2005

Dizer não é uma arte

Dizer não, não é uma tarefa fácil. Não, não tô falando em dizer "não" quando se tem motivos claros e objetivos pra fazer isso, quando não se tem outro jeito ou outra saída. Tô falando em dizer "não" quando não se tem razão (aparente) pra dizer "não", quando essa palavrinha de três letras pode nos colocar numa enrrascada das grandes, em situações delicadas e comprometedoras . Quando a gente sabe que o "não" vai doer. E vai doer muito. Em quem diz e/ou em quem ouve. (sim, pode ser um sofrimento coletivo, o que é ainda mais grave!). É nessas horas, no limite entre dizer "sim" e se salvar ou dizer "não" e se arriscar, que se reconhecem os Grandes Mestres da Negativa. Pessoas que, diferente do resto de nós, simples mortais, confusos, inseguros e indecisos, negam até sem falar nada, negam até dizendo "sim". Pela postura, pelas atitudes, pelo comportamento. Sim, porque existem milhares de maneiras de dizer "não", das mais suaves às mais duras e os Senhores do Não sabem fazer uso de cada uma delas com enorme talento e competência. Sem deixar margens pra dúvidas. É não e não. Pronto. Acabou a discusão e o assunto. Não adianta tentar convencê-los a mudar de opinião, não adianta insistir, nem implorar. Esses Cavaleiros Jedi têm uma força de vontade ninja e desafiá-los a um embate direto só vai levar você a um vazio existencial e à certeza de que qualquer esforço não vai ser completamente infrutífero. Acho que os Mestres do Não, deviam começar a dar palestras e cursos pra ajudar o resto da humanindade. Pessoas como eu, que ficam com o "não" na ponta da língua, mas na hora H acabam falando: "tá, tudo bem..." e ouve mentalmente a sirene tocando "peeeeeeeeeeen, resposta errada!"

Nesse momento, o meu maior problema é dizer "não" a mim mesma. Quando penso que me convenci, digo: "eeeeeeeeei, mas peraí..." E começo tudo de novo. Eita, menina teimosa.