segunda-feira, novembro 21, 2005

Da arte de cair em tentação

E quando chegar na sua casa, o elevador vai estar no último andar. Porque o elevador sempre tá no último andar quando tô com pressa. Vou apertar o botão mil vezes, mesmo com a luzinha já acesa, e sorrir de nervoso pro rapaz encostado na parede com mochila nas costas, que espera também. Quando a porta abrir, vou esbarrar nas pessoas que querem sair e pedir desculpas, sem graça. Vou olhar pro rapaz, que continua encostado na parede com mochila nas costas, com cara de vai-ou-não-vai? Vai. Antes de chegar no seu andar, o elevador vai parar duas ou três vezes. Porque o elevador sempre pára duas ou três vezes antes de chegar onde quero quando tô com pressa. Pronto. Vou tocar a campainha e ouvir os seus passos rápidos, enquanto o meu coração bate no mesmo ritmo. Você vai perguntar quem é, como se não soubesse, e abrir a porta já morrendo de rir da minha cara afobada. Vou sorrir de volta, porque meu ar de “puta que pariu, que demora é essa?” não vai resistir aos seus apelos, porque eu não vou resistir aos seus apelos, porque eu já não resisto...