sábado, julho 30, 2005

Hipnose

E meu olhos ficaram presos ali, naquela quase linha reta que ia do finzinho das suas costas até onde começava o cabelo. E as minha mãos, mortas de inveja, queriam seguir o mesmo caminho...

quarta-feira, julho 27, 2005

Entendimento

Aí, hoje pensei: “não sei o que seria de mim, sem ele”. Ia sobreviver, claro. Mas, que ia ser muito triste e difícil, isso ia.
Porque é bom acordar de manhã, abrir os olhos e dar de cara com aquele sorriso que ilumina tudo.
É que ele sorri de um jeito tão verdadeiro e tem essa alegria de viver que é uma coisa linda.
E ele agüenta meu mau-humor matinal e às vezes ainda compra sanduíche na padaria, pro meu dia começar de um jeito mais gostoso.
E ele me abraça e faz de conta que é travesseiro até a hora de ir embora e quando tenho medo e me sinto insegura ou sozinha no mundo, ele me traz na agência, mesmo chegando atrasado no trabalho.
E às vezes ele me liga pra dizer que tá com saudade ou pra contar uma novidade boa ou pra dizer que tá preocupado com não-sei-o-quê.
Porque tem isso da gente dividir as coisas.
Quase todas.
E quando eu digo que a minha vida tá uma merda, ele me olha como quem não entende. E também não entende quando digo que a minha cabeça ta tão cheia de pensamento, que acho que vou enlouquecer.
Eu faço cara de que: “ah, querido, assim fica impossível” e ele ri e não leva a sério e me dou conta que talvez não seja tão sério assim. Aí, ele me chama pra sair, pra qualquer lugar, fazer qualquer coisa, porque acha que assim posso me distrair de mim mesma.
Às vezes, ele quer atenção e fala sem parar e eu, distraída, continuo o que to fazendo e ele reclama, amuado. Vai pro quarto e deita na cama feito criança que faz birra. E eu vou até lá e peço desculpa e brinco e falo besteira até que ele comece a rir e fique tudo bem.
E só sossego quando fica tudo bem. Porque parece que tá tudo quebrado, partido, amassado, quando não é assim...
E o cheiro da pele, a voz com sotaque, o calor do abraço, o sorriso desavergonhado, o olhar concentrado, os passos no corredor... Já fazem parte de mim de tal forma, que às vezes me distraio e penso que são meus.
Nesse momento, entendo exatamente o que Quintana quis dizer, quando escreveu que amor é quando a gente mora um no outro.

quinta-feira, julho 14, 2005

Margaridas

Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-te-quero, mal-te-quero, bem-ou-mal, te-quero.

terça-feira, julho 12, 2005

Não, você não poderia entender.

Se nunca acordou do meu lado e me ouviu reclamar durante meia-hora por ter que levantar cedo. Nunca passou a noite me ouvindo falar besteira pra tentar enganar o sono que insistia em chegar. Nunca me viu arregalar os olhos de surpresa. Nem morder os lábios pra não falar. Nunca caminhou comigo em silêncio pela cidade. Nunca mergulhou comigo no mar. Não me viu balançar na rede. Nem me ouviu gritar na montanha-russa. Não sabe que a minha mão é muito mais quente que o resto do corpo. Nem que meu sorriso chega primeiro nos olhos que na boca. Nunca penteou o meu cabelo. Nunca se escondeu atrás da porta pra me dar um susto ao chegar. Nem reclamou comigo porque insisto em deixar o telefone tocar. Não me viu rir até chorar, nem chorar até soluçar. Não me disse que ia ficar tudo bem quando tive medo. Nem sentiu meu coração acelerar. Não, você não poderia entender...

segunda-feira, julho 11, 2005

A Flor das delícias

"A trança que se desfez com a Briza que se desfez do vento que se fez
dos dias insólitos daquela alminha presa na luz do tempo...

Um Mundo todo se formando da Briza, a fada encantada, pedacinho de

vento que não se desfaz...

Um mundo em forma de prisma que reflete o sol em várias cores, das
quais nascem flores que são as mães da árvores que existem lá... muito além
dos montes intransponíveis do pensamento, onde há vida mesmo nas folhas
secas e flores murchas, onde há samba tocando o tempo todo e cheirinho
de uma planta especial: uma flor que nasceu do coração do mundo, flor
que às vezes murcha e exala uma fragrância que atrai todo amor, e quando
sorri transforma pétalas em mãos e acaricia a vida,rainha do mundo das
delícias..."

Ô moca, e eu digo o quê?
Eita, que esse povo inspirado me quebra...
Brigada Andressa Drelícia

sábado, julho 09, 2005

Ana, a menina gigante

Ana é menina, bailarina. Aquela que rodopia sobre a caixinha de música. A cabrocha de todo samba. Samba de preto velho, salve-simpatia, samba de preto tu. Menina Carnaval, confete e serpentina. Ela que enfeita a noite com purpurina e ilumina tudo com as luzes de Olinda. Ana é saudade como o sol que esquenta a pele em tarde morna. À beira mar. Porque ela é barulho de mar quebrando. Bossa nova. Banquinho e violão. Ana é tão grande que não cabe nem em todas as palavras. É maior que a distância entre Recife e São Paulo. Maior que todos os braços juntos num só abraço. Tão grande que não cabe em si e se espalha pelo mundo. E o mundo, encantado, agradece.

quarta-feira, julho 06, 2005

Ela veio

A sua carta chegou e os meus olhos estão cheios das suas palavras.

Sorte no jogo

Você é cara e é coroa.

terça-feira, julho 05, 2005

Dilema

A menina deita no sofá com o telefone no colo. Começa a discar e pára. Coloca o fone no gancho. Mãos geladas, coração acelerado. "Não, melhor não". Respira. Conta até 10. Brinca com o teclado. Mais um tentativa. "Aaaaaaaaaaaai, não". Desliga. Olha pra televisão, sem ver. Pensa que precisa dar um jeito de fazer exames, marcar médico, arrumar o guarda-roupa, começar a ler Don Quixote, ganhar mais dinheiro, passar na casa da mãe, copiar uns CD´s... ligar, ligar, ligar. Levanta. Vai tomar uma água. Cantarola uma música porque não sabe assoviar. Procura alguma coisa pra comer, não encontra. Volta pra sala. Senta no sofá. Pernas cruzadas. Põe o copo de água no chão e o telefone no colo. Os dois se encaram, demoradamente. Ela respira fundo. "Pára com isso! Você já fez coisas muito mais difíceis"... "É, já fiz coisas muito mais difíceis, como... como..."

domingo, julho 03, 2005

O comentário que virou post

"Há pessoas que gostam dos cataventos porque giram sem sair do mesmo lugar.Outras, porque se movem com a Briza mais leve, imobilizados, contudo, face à ventania exagerada.Outros, ainda, porque cataventos lembram a infância, que não sabem que não perderam.Aos cataventos, entretanto, resta tentar entender todas estas pessoas, que o amam, mas não o sabem, porque somente os iguais, outros cataventos, podem fazê-lo."

Ed, de novo.
Bem dizer, um blog escrito a quatro mãos...

Vazio

E eu sinto falta de alguma coisa que não sei o que é. Digo que é de você. Mas, não é verdade. Porque não é só isso. Essa falta já existia muito antes de você chegar. Acho que às vezes complico as coisas e faço tudo do jeito mais difícil. Talvez, tenha feito escolhas erradas. Talvez, não tenha tido escolha. Sinto culpa e peço desculpas. A mim mesma. Porque, de vez em quando, me esqueço. Tenho crises e acho que a minha vida tá uma merda e que as coisas estão fora do lugar. Derrudo tudo e começo a arrumar. Canso, choro e rio de mim mesma. “Puta que pariu, Briza, que bagunça você fez”. E resolvo não me levar tão a sério. Nessa hora, jogo fora meus papéis e meus problemas. Escolho uma música pra ouvir bem alto. Canto e danço no escuro. E mesmo de olhos abertos, não vejo nada.