quarta-feira, julho 27, 2005

Entendimento

Aí, hoje pensei: “não sei o que seria de mim, sem ele”. Ia sobreviver, claro. Mas, que ia ser muito triste e difícil, isso ia.
Porque é bom acordar de manhã, abrir os olhos e dar de cara com aquele sorriso que ilumina tudo.
É que ele sorri de um jeito tão verdadeiro e tem essa alegria de viver que é uma coisa linda.
E ele agüenta meu mau-humor matinal e às vezes ainda compra sanduíche na padaria, pro meu dia começar de um jeito mais gostoso.
E ele me abraça e faz de conta que é travesseiro até a hora de ir embora e quando tenho medo e me sinto insegura ou sozinha no mundo, ele me traz na agência, mesmo chegando atrasado no trabalho.
E às vezes ele me liga pra dizer que tá com saudade ou pra contar uma novidade boa ou pra dizer que tá preocupado com não-sei-o-quê.
Porque tem isso da gente dividir as coisas.
Quase todas.
E quando eu digo que a minha vida tá uma merda, ele me olha como quem não entende. E também não entende quando digo que a minha cabeça ta tão cheia de pensamento, que acho que vou enlouquecer.
Eu faço cara de que: “ah, querido, assim fica impossível” e ele ri e não leva a sério e me dou conta que talvez não seja tão sério assim. Aí, ele me chama pra sair, pra qualquer lugar, fazer qualquer coisa, porque acha que assim posso me distrair de mim mesma.
Às vezes, ele quer atenção e fala sem parar e eu, distraída, continuo o que to fazendo e ele reclama, amuado. Vai pro quarto e deita na cama feito criança que faz birra. E eu vou até lá e peço desculpa e brinco e falo besteira até que ele comece a rir e fique tudo bem.
E só sossego quando fica tudo bem. Porque parece que tá tudo quebrado, partido, amassado, quando não é assim...
E o cheiro da pele, a voz com sotaque, o calor do abraço, o sorriso desavergonhado, o olhar concentrado, os passos no corredor... Já fazem parte de mim de tal forma, que às vezes me distraio e penso que são meus.
Nesse momento, entendo exatamente o que Quintana quis dizer, quando escreveu que amor é quando a gente mora um no outro.