terça-feira, julho 31, 2007

Amanhecendo.

Passou minutos intermináveis observando o movimento dos olhos dela, que dormia. Se perguntou como conseguia se entregar tão profundamente ao sono. Ficar ali, totalmente vulnerável. Tentou imaginar com o quê ela sonhava, enquanto seguia com o indicador o caminho da sua sobrancelha esquerda. Sorriu. De ternura. Quis trazer o corpo dela pra mais perto do seu, quis trazer a vida dela mais perto pra sua. E ficou assim, paralisado de encantamento até o dia amanhecer e enfeitar os cabelos dela com raios de sol.

quinta-feira, julho 26, 2007

Eu gosto de fuirulas.

E ando sentindo falta de rompantes românticos.

quarta-feira, julho 25, 2007

Das fragilidades

Mais uma vez, sinto aquela mão gelada me apertar o peito.
E é sempre como naquele 7 de setembro, mesmo 13 anos depois.
O caminho pro consultório que não vi, a conversa deles que não ouvi.
O frio na barriga, o coração acelerado, o cheiro de hospital.
As palavras que mudam uma vida inteira.
O susto, a raiva, a impotência.
Uma tristeza tão tão tão interna, que fica impossível compartilhar.
É como se doesse lá na alma.
E penso que a gente é tão sozinho nessas horas, né?
Porque é você - e só você - que deita a cabeça no travesseiro com um medo filho da puta e reza pra que MAIS UMA VEZ fique tudo bem.
Há de.

sexta-feira, julho 13, 2007

Vou-me embora pra Pasárgada.

Lá sou amiga do rei,
que é o homem que eu quero.

Das coisas que não mudam.

Continuo apertando o 6 quando entro no elevador, mesmo morando em outro andar, de outro apartamento, num outro bairro.
Fiquei um pouco lá, vocês sabem.
Ou muito, conforme o dia.
Ele nunca tinha visto figuras tão vorazes quando as que ela desenhava em seu corpo. Não conhecia a volúpia de unhas e dentes cravados na pele, que confessava os segredos mais íntimos. Os olhos turvavam e se perdiam em algum ponto no infinito. O pensamento desvanecia, feito nuvem ao sabor do vento. Ela passeava com a ponta dos dedos em seus ombros, seus braços, seu peito e cada arrepio era recebido como um agradecimento. Ela sorria e falava de amor numa língua inventada antes da palavra. Ele entendia.

quarta-feira, julho 11, 2007

Prestenção.

Não é que eu não goste de tu. Falar em afeto ou na falta de, seria simplificar demais as coisas. É mais profundo e é inevitável. Mas, isso não quer dizer que não pense tu ou não me preocupe. Penteei teus cabelos, lembra? E isso pra mim tem significado. Tudo pra mim tem significado. O que é muito cansativo, na verdade. Mas, isso tu já sabe. Sabe até melhor do que eu. Aliás, tem um monte de coisa que tu sabe melhor do que eu, mas que insisto em explicar. Feito isso. Isso que não se nomeia, porque não existe palavra para.

terça-feira, julho 10, 2007

Aurora de todas as horas

Aurora do dia.Aurora da noite. Aurora até ao entardecer. Quando o céu fica cor de rosa e o sol vai embora. Sol, que mora do outro lado da Aurora. Passando pela Santa Isabel ou pela Duarte Coelho. Porque a Aurora é assim, cheia de histórias. Dessas que ficam marcados nas ruas e nos rostos. Aurora de tempos áureos. De antigos casarios. De passado, de lembranças. Onde o velho se transforma em novo. Despistando a morte e o esquecimento. Renascendo na arte, Aurora da Criação. Que transforma monumento em libertação. Que grita em silêncio. E clama contra a injustiça, a dor e o sofrimento. Aurora da vida. Vida que corre em suas portas e janelas de todas as cores. Pelas calçadas e pelas pontes. As três pontes da Aurora, braços sobre o Capibaribe. Aurora que tenta alcançar o mar. Mas, o mar da Aurora é de gente. Um mar que passa e não pára. O dia todo, todos os dias. E quando o silêncio toma conta da Aurora, a cidade dorme até que outra aurora possa chegar e despertar.

domingo, julho 08, 2007

Verdenovo

Ontem, quando tava indo pro centro, reparei que o Capibaribe tava verde. Mas, de um verde assim novo pra mim. Bonito que só. Chega acendia contra o fundo cinza do dia nublado. Aí, pensei que se ele tivesse comigo, ia dizer que era o filtro da janela e acabar com o meu espanto. Achei graça e senti saudade e amor. Tudo muito. E quis comprar um óculos pra ele poder ver tudo com mais amarelos e vermelhos, feito eu, quando passeio lá pelas Fortalezas. Na volta, o verde do Capibaribe continuava lá. Abri a janela e não mudou. Olhaí! Era de verdade mermo.

terça-feira, julho 03, 2007

Tanta falta.

- Tás chegando?
- Não.
- Tu chega o mais rápido que puder?
- Chego.

E chega. Me encontra no quarto. Agarrada com o travesseiro. Acha graça e me abraça. Choro tudo outra vez. Agora, protegida pelo olhar dele que não desvia do meu. Ouve palavrões e lamentações em silêncio. Não me julga ou me entende profundamente, não sei. Diz que tá do meu lado, seja lá pro que for. Me apóia e pronto. Assim, incondicionalmente, como deve ser. Aí, eu canso. Porque cansa doer. Deito e fico bem quietinha. Sinto ondas de ternura, dessas que acalmam o pensamento e o coração. Quando um quase sorriso brinca no meu rosto, ele apaga a luz e eu durmo. Em paz.

segunda-feira, julho 02, 2007

Aí, o pai dele disse assim:

- Eu tinha me esquecido de Recife. Mas, quando venho pra cá tenho que ouvir o hino do Ceará todo dia de manhã.
- Pra não se atrapalhar?
- Pra não me apaixonar.

Eu mostrava a cidade a eles, eles se mostravam a mim.

Assim, sem querer. Porque era outro lugar, outra realidade, outra rotina. Acho que a gente sempre se expõe mais nas horas de susto e surpresa. E eu ficava prestando atenção. Porque tenho aprendido a prestar atenção, sabe? Com ele, por dele, que tem tanto dos dois. E é um contentamento tão grande descobrir essas coisinhas, que de tão pequenas e delicadas, quase não se percebe. Há meses atrás, eu não perceberia. Há meses atrás, eu era outra pessoa.