sexta-feira, março 25, 2005

O melhor presente

Quem semeia Brisa

"Velhos ditados costumam ser ao mesmo tempo óbvios e questionáveis. Óbvios exatamente por serem velhos; questionáveis porque frases feitas normalmente são proferidas sem muito critério. Uma delas fala "Quem semeia vento colhe tempestade". Dá medo ouvir isso pouco depois de tomar atitudes agressivas, rápidas, meio inconseqüentes.

Cresci assim, com um certo medo da inconseqüência, mas aprendi algumas lições no caminho. Uma delas é que há formas de contornar esses medos, que são tantos. Medo de errar, de me enganar, de sofrer e - o pior de todos - o medo de fazer sofrer. Isso mesmo, essa empatia exagerada que faz com que tenhamos tanto cuidado em evitar que outros pisem nos mesmos cacos que nos são tão familiares. Aprendi que posso observar os cacos já pisados e evitar os próximos.

Com o tempo, de tanto observar e aprender, é fácil andar mais rápido. Correr mesmo. Às vezes se chama alguma atenção dos mais precavidos, que não sabem de onde viemos, que não percebem que tanta velocidade é o fruto simples e desejado de anos de experimentos, sofrimentos e acertos. Felizmente a alguns é permitido "aprender a voar". Mas isso não é tudo, nem o melhor.

Bom mesmo seria nascer já assim, sem tanta precaução, sem tantos cuidados. Nascer já leve, já sorridente, já perpassando nuvens e cortando os ares. Curioso perceber que esses mesmos anjos-nascidos têm uma quase exaustiva necessidade de se preocupar com as coisas e com os sentimentos. Curioso ver que são eles mesmos que tentam se amarrar e se agarrar em critérios novos ou tradicionais, justamente porque sua natureza é sonhadora e leve. Pensam que nós, os "velhos-velozes", somos livres, quando são eles que já nascem assim, são eles que nos inspiram e nos mostram na prática o que é voar. E mesmo quando não os acompanhamos diariamente, mesmo quando não conhecemos seus passos e o formato de suas asas, ainda assim paira um "je ne sais quoi" que nos salta aos olhos, a nós, bons e gratos observadores.

É muito feliz aquele que reconhece tais personagens, que consegue manter contato com gente assim, gente que se joga. Muitos pensam que são simples inconseqüentes os que se largam desta forma, mas não penso dessa maneira. A verdade, se querem mesmo saber, é que aqueles que se jogam percebem desde muito cedo que suas asas os protegerão das piores quedas. Reclamam bater as cabeças no chão, mas isso nunca acontece, pois sempre levantam, sempre retornam, sempre brilham novamente. A queda aparente é somente a sensação de desnível, um escurecimento momentâneo para nefelibatas em mergulho profundo, acostumados à brancura do sol sobre as nuvens.

Possa você ter menos cuidado e verá também que nem todo vendaval é nocivo, nem todo rebuliço é pernicioso e vil. Verá que mesmo os distúrbios e sons mais inquietantes são apenas intervalos diferentes de um mesmo silêncio; que a quietude e a serenidade não importam tanto porque nunca deixarão de sobrevir aos que se mantém vivos. Verá que com ou sem cuidado extremo não há porque tanto temer o presente que o cerca nem o futuro que já sobe pelos pés. Assim, quem sabe perceberá que lá dentro, bem atrás de todos os medos e desesperanças, há um par de asas querendo sair.

Tenha coragem. Se não nasceu já livre, aprenda a sê-lo. Ou melhor, relembre o que já foi antes, desaprenda essa tanta cautela. Não tema colher uma tempestade durante um vôo qualquer, mas relaxe. Pois há muito mais alegria naqueles que se permitem semear Brisa em suas vidas, todos os dias.

Deixo esta mensagem plantada para o futuro.
E parabéns para você, que já é Brisa!"

Edilton Siqueira
Catende, Pernambuco.

Depois de ganhar um presente desses, posso escrever mais alguma coisa? Só: brigada, brigada, brigada, brigada... Infinitamente.
Esse moço, me quebra!